
Quando menos é mais
Postado em 16 de Abril de 2014 às 14:04 na categoria inteligência humana
Ao longo de um século de pesquisa psicológica, muitas são as evidências que comprovam que habilidade cognitiva é um dos determinantes mais críticos do desempenho especializado. A despeito das inúmeras controvérsias acerca do binômio genética-ambiente, o desenvolvimento da habilidade cognitiva das pessoas é um resultado bem estabelecido. Assim como, também é certo que habilidade cognitiva pode ser, confiavelmente, mensurada, constituindo-se forte e consistente preditor de importantes resultados sociais, como, por exemplo, o desempenho no trabalho, realizações na carreira, sucesso no ambiente acadêmico e navegação bem sucedida nas complexidades da vida cotidiana.
Certamente, discordâncias teóricas sobre a natureza exata e a estrutura das habilidades cognitivas ainda permanece, além de, outros traços cognitivos, do tipo interesses, personalidade e motivação, serem determinantes críticos do comportamento. Não obstante, há um forte consenso científico que altos níveis de habilidades cognitivas produzem benefícios positivos para todos os tipos de desempenhos especializados.
Todavia, um recente corpo de pesquisa tem desafiado esta posição, sugerindo que, sob certas condições, altos níveis de habilidade cognitiva podem, realmente, prejudicar o desempenho em tarefas complexas. Por exemplo: algumas dessas pesquisas indicam que pressões sociais e avaliativas podem ser mais prejudiciais para os que possuem alta habilidade do que para aqueles que possuem baixa habilidade. Os autores desses estudos concluíram que indivíduos mais prováveis de fracassarem sob pressão no desempenho são aqueles com memória de trabalho mais elevada. Inversamente, pessoas com baixa habilidade, nestas mesmas circunstâncias, vivenciam sucesso sob condições estressantes porque, comparadas às pessoas com alta habilidade, elas não experienciam diminuição intensa em seus desempenhos sob condições estressantes.
Um outro exemplo envolve mudanças na tarefa em que, ocorrendo no contexto da aquisição de habilidade, prejudicam o desempenho de pessoas com alta habilidade, mais do que de pessoas com baixa habilidade, levando à sugestão de que pessoas com alta habilidade são menos adaptáveis do que aquelas com baixa habilidade. De fato, sob certas tarefas complexas, que ocorrem fora do controle consciente, tem sido mostrado que pessoas com baixa habilidade desempenham melhor do que pessoas com baixa habilidade. Assim considerando, pesquisadores argumentam que menos é mais quando as pessoas necessitam se adaptar às mudanças e desempenhar sob certas tarefas complexas, que parecem requerer mais do que alta habilidade para serem realizadas.
Em outras palavras, recente pesquisa experimental tem gerado estas conclusões provocativas, indicando que pessoas com baixa habilidade podem ser mais eficientes dentro de ambientes especiais, caracterizados por fatores como pressão de tempo, avaliação social e imprevisível mudança na tarefa.
Se tal conclusão for correta, ela tem relevantes explicações para nossas práticas, tais como, seleção de pessoal, estratégia de treinamentos e métodos de ensinagem. O certo é que desempenho especializado não é função única da habilidade cognitiva, pois fatores situacionais, e muitas outras diferenças individuais, tais como, aquelas refletidas por traços de personalidade, motivação, experiência e conhecimento da tarefa afetam o desempenho complexo e especializado.
Algumas vezes, olhar o menos é mais vantajoso e eficiente do que capturar, de imediato, o mais, pois o menos, às vezes, é mais.