Realidade virtual na Odontologia

Realidade virtual na Odontologia

Postado em 15 de Abril de 2014 às 11:04 na categoria Percepção e Psicofísica

             Dor e ansiedade são vivências emocionais desprazerosas, usualmente associadas com traumas teciduais, comuns a quem se submete, ou pretende se submeter, a um tratamento dentário. Para reduzir estas emoções negativas, principalmente em crianças, duas estratégias têm sido utilizadas: a primeira consiste em técnicas comportamentais, incluindo distração, modelagem, demonstrações reais e hipnotismo; a segunda envolve o uso de medicamentos.

            Distração parece ser uma técnica segura e barata, que permite relaxamento comportamental efetivo em procedimentos dentários dolorosos de curta duração. Por isso, técnicas de desvio da atenção do paciente nos procedimentos odontológicos, têm se mostrado úteis em reduzir a dor em procedimentos invasivos de curta duração. A aplicação da distração é baseada na suposição de que a percepção de dor tem um componente psicológico. Deste modo, a quantidade de atenção, dirigida ao estímulo doloroso, modula a percepção de dor, o que faz a percepção de dor diminuir quando a atenção da pessoa desfoca-se do estímulo doloroso.

Atualmente, tem sido crescente o interesse pelo uso da realidade virtual, interface homem-computador que possibilita ao usuário interagir dinamicamente com o ambiente virtual, enquanto técnica para reduzir a dor em ambiente odontológico. Desta forma, este ambiente pode ser eficiente na redução da dor e da ansiedade, tradicionalmente associadas aos cenários e procedimentos dentários.

            Para testar essa hipótese, 120 crianças saudáveis, de 04 a 06 anos de idade, com nenhuma história prévia de desordem de ansiedade, foram, aleatoriamente, divididas em dois grupos. O estudo consistiu em 03 sessões consecutivas de tratamento. Durante a primeira visita, foi empregada uma terapia de flúor em ambos os grupos. Nas duas sessões seguintes, os grupos receberam tratamentos restauradores com e sem realidade virtual, através da qual um episódio do cartoom “Tom and Jerry” foi apresentado a todos os participantes. Óculos especiais foram adaptados para as crianças. Ao final de cada sessão, as crianças estimaram a severidade da dor utilizando a escala facial de dor e o estado de ansiedade foi mensurado por meio de uma versão da escala de faces gerada por meio da escala de ansiedade dental para crianças.

            Os dados revelaram que o uso da distração virtual foi eficaz em diminuir a percepção de dor e o nível do estado de ansiedade em crianças sem desordens de ansiedade durante tratamento rotineiro. Isto ocorreu porque houve um ambiente mais imersivo por parte dos participantes devido à técnica virtual utilizada, na qual a atenção é mais focada no que acontece no mundo virtual do que no ambiente circundante.

           Certamente, o sucesso da técnica de realidade virtual em distrair a criança depende do caráter afetivo da programação usada; talvez, no futuro, os próprios pacientes poderão escolher seus programas favoritos para serem mais distraídos.

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