
Reserva cognitiva
Ciente do quão impressionante se mostra a variabilidade no envelhecimento cognitivo, explicações para o fato de indivíduos ou grupos vivenciarem menores taxas de declínio cognitivo, do que outros, envolvem de neuroplasticidade à variação biológica, passando pela compreensão parcial da demência. Recentemente, o conceito “reserva cognitiva” tem sido usado para explicar as diferenças individuais de lidar com, ou compensar, uma patologia. Logo, sendo “reserva cerebral” expressão que se refere a aspectos estruturais do cérebro, como tamanho e contagem de sinapses, “reserva cognitiva” é a habilidade para otimizar o desempenho destas estruturas, através de dois mecanismos: recrutamento das redes neurais do cérebro e/ou compensação por meio de estratégias cognitivas alternativas.
Tal “reserva cognitiva”, enquanto capacidade para criar um atraso temporal entre uma patologia e a expressão clínica da demência, a mesma tem sido associada ao menor risco de demência, ainda que a extensão com que ela modele a trajetória do envelhecimento cognitivo ainda não esteja clara na literatura científica. Estudo recente (Annals of Neurology, 2011; in press) tentou responder a questão de como a reserva cognitiva modela o declínio cognitivo. Para isso, nível ocupacional, educação e altura, subdividos em três categorias (alta, intermediária e baixa), foram usados como marcadores de reserva cognitiva, com aferição das funções cognitivas, examinadas três vezes ao longo de 10 anos, através de cinco tarefas independentes, que envolviam raciocínios verbal, matemático e mnemônico; fluências verbal, fonêmica e semântica; e vocabulário. Ademais, um escore cognitivo global foi criado, usando os escores padronizados de todos estes testes.
As avaliações de todos os três indicadores de reserva cognitiva foram associadas com as funções cognitivas aferidas na linha de base, mas associações mais robustas foram obtidas com a ocupação. De todas as três medidas de reserva cognitiva, a altura teve a associação mais fraca com as medidas das funções cognitivas. Além disso, todas as funções cognitivas, exceto vocabulário, declinaram ao longo do período de 10 anos. Em relação ao escore cognitivo global, houve um declínio no grupo com ocupação mais elevada quando comparado com os grupos intermediário e baixo. O declínio nos grupos com reserva cognitiva indicada pela educação e altura foi similar.
Claramente, os resultados indicam que o desempenho cognitivo, ao longo da vida adulta, foi mais elevado nos grupos com alta reserva cognitiva. Entretanto, a taxa de declínio cognitivo não difere entre as diferentes reservas com exceção da ocupação, na qual há alguma evidência de um declínio maior no grupo com ocupações mais altas.