Selfies e personalidade

Selfies e personalidade

                A tendência recente de autopromover-se através do uso das Redes Sociais pode ter contribuído para o surgimento de um novo fenômeno de divulgação pessoal: postar selfies em páginas do Facebook e afins. Uma selfie, definida como “autorretrato de si próprio ou de outros, efetuado a partir de uma câmera mantida a altura do comprimento do braço, ou apontada em um espelho, usualmente compartilhada através da mídia social”, descreve que tal fenômeno, ainda que relativamente novo, foi, em 2013, incorporado ao Oxford Dictionary, tamanha sua importância. Mas, apesar de sua crescente popularidade, observada tanto no uso aumentado da palavra selfie (aproximadamente 17.000 % de 2012 para 2013), quanto na crescente referência aos selfies em vários tipos de mídias de massa (incluindo musicais e séries televisivas), poucos estudos têm investigado este, atualmente, popular fenômeno social, principalmente analisando as características de personalidade e comportamentos daqueles que postam autorretratos nas redes sociais.                                            

                Visando ao preenchimento desta lacuna, um trabalho publicado na Personality and Individual Differences 90 (2016) 119-123, inseriu dois estudos envolvendo um total de 1296 homens e mulheres. Nele, testou-se a predição de que o compartilhamento de selfies nas redes sociais é positivamente relacionado a exibicionismo social e auto-estima. Em ambos os estudos, os participantes completaram três questionários de personalidade, a saber: uma Escala de Auto-Estima; outra de Invenção do Inventário dos Cinco Grandes Fatores de Personalidade; e um Índex de Exibicionismo Social. Três categorias de selfies foram examinadas: auto-selfie, selfie com um parceiro romântico e selfie coletiva (isto é, tirada com um ou mais amigos, excluído o parceiro romântico). No estudo 1, os participantes registraram o número de fotos postadas durante o mês anterior em todos os tipos de sites pessoais, incluindo Facebook, Twitter, Instagran e Whatsapp. No estudo 2, foi mensurado o número atual de fotos postadas por cada participante no Facebook. As análises consideraram a idade e o sexo do participante. Dos resultados obtidos, destaco, como os mais interessantes, os seguintes: (a) as mulheres postaram mais selfies de cada um dos tipos do que o fizeram os homens; (b) independente do sexo, os resultados indicaram que exibicionismo social e extroversão, geralmente, predizem a frequência de postagem de selfies online, tanto em homens, quanto em mulheres, porém sem haver forte evidência para uma relação de auto-estima e comportamento de postagem de selfies entre as mulheres, e apenas uma fraca evidência para os homens.                                            

             Neste contexto, as pessoas que demonstram elevado exibicionismo, tipicamente se satisfazem por atrair a atenção para si próprias, frequentemente se auto-engajando em relacionamentos os mais diversos. As tendências para o exibicionismo são estimuladas pela presença de uma audiência, o que leva ao fato de outros usuários das mídias sociais poderem ser considerados um grupo facilmente acessível para se compartilhar fotos e auto-postagens. Extroversão podendo, portanto, estar relacionado à atividade de postar selfies por uma variedade de razões: relacionamentos mais consistentes para selfies com parceiros românticos, seguidas das selfies coletivas. Uma vez que os extrovertidos são, geralmente, mais ativos socialmente que os introvertidos, postar selfies pode, também, funcionar como uma ferramenta para manter amigos diretamente conectados a si próprios. Ademais, pessoas extrovertidas são usuários mais ativos de várias mídias sociais do que o são aquelas introvertidas, o que faz com que aquelas sejam, também, mais ativas em posicionar selfies.

                Assim considerando, estes resultados esclarecem as diferenças individuais entre os usuários de mídias sociais que podem explicar algumas das variações no comportamento de compartilhar fotos online, e fornecem novos insights sobre os fatores psicológicos que motivam este crescente, e popular, fenômeno.

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