
Testes: Propriedades metrológicas
Historicamente o problema da mensuração em Psicologia desenvolveu-se a partir de duas tendências principais: a medida dos processos sensoriais que evoluiu dentro da tradição psicofísica e a medida das diferenças individuais enfatizada pelos construtores de testes e psicólogos clínicos. Assim, de um lado, aqueles pesquisadores baseados na tradição psicofísica e, portanto, centrados no estudo dos processos sensoriais, foram mais inspirados pela ênfase dada à metrologia pela Física e Astronomia. De outro lado, os pesquisadores preocupados com a elaboração de testes com o objetivo de medir as diferenças individuais, inspiraram-se inicialmente na teoria evolucionista do século XIX impulsionada pelas ideias de Darwin e, por consequência, estavam mais centrados no estudo das características hereditárias e na Eugenia.
Os debates e as discussões que se seguiram fomentaram o desenvolvimento e a criação dos testes psicológicos, os quais alcançaram rapidamente sucesso e muito contribuíram para a divulgação da Psicologia como ciência e profissão. Além disso, os métodos psicométricos foram divulgados através dos testes e isto explica, em parte, porque a psicometria foi confundida com a aplicação dos testes, não só pelos leigos, mas também por grande parte dos psicólogos. Esta confusão é apenas um histórico acidente de percurso haja vista que a psicometria tem e tem tido uma importância e generalidade muito maior dentro da evolução da ciência psicológica.
Todavia, independente do tipo de medida- centrada nos processos sensoriais ou nas diferenças individuais - constatou-se que, com frequência, havia uma grande variabilidade nos escores individuais derivados destas diferentes medidas psicológicas as quais poderiam originar-se tanto das características do indivíduo que não permaneciam constantes (variavam de um dia para o outro, o indivíduo é fatigável, adapta-se rapidamente ao meio, etc.) quanto dos instrumentos de medidas que eram ainda rudimentares e, por consequência, conduziam a erros na mensuração. Estes fatos levaram os Psicólogos a se interessarem pela estatística, que naquele momento ainda se encontrava em fase embrionária. Assim, a evolução dos métodos psicométricos foi inicialmente ligada ao desenvolvimento dos métodos da estatística, de forma que os domínios - psicometria e estatística - cresceram juntos e mantêm até hoje uma interação constante que se tem revelado bastante frutífera para ambos.
Psicometria
O domínio da avaliação psicológica é denominado de psicometria, a qual se constitui na abordagem científica para a mensuração das características psicológicas. A psicometria faz uso dos testes padronizados que são compostos por um conjunto de tarefas administradas em condições controladas e as quais são usadas para avaliar o conhecimento, as habilidades e outras características psicológicas dos indivíduos. O campo da psicometria teve o seu início nos primeiros anos do Século XIX quando se tornou necessário diferenciar os indivíduos, em função de suas várias características e/ou atributos, para objetivos clínicos, educacionais ou de trabalho. A testagem psicológica é atualmente um dos campos mais amplos da psicologia aplicada e, talvez, representa uma das contribuições mais importantes da ciência psicológica/comportamental para a nossa sociedade. De fato, os testes psicológicos e outras formas de avaliação, que não necessariamente a psicológica, são frequentemente utilizadas em quase todos os processos envolvidos na avaliação humana. Praticamente todas as nossas atividades são de alguma forma avaliadas por algum tipo de instrumento de medida. Assim, somos usualmente avaliados nas escolas com o propósito de monitorar o nosso desempenho. Somos testados em exames teóricos e práticos para a obtenção das carteiras de motoristas e para habilitarmos para o exercício de nossas profissões. Somos avaliados com o propósito de verificar alguma dificuldade de aprendizagem e também para sermos eventualmente premiados ou promovidos no trabalho em função de nossos desempenhos. Enfim, somos avaliados ou testados na escola, na universidade, na indústria e no trabalho, etc.
A testagem psicológica envolve e afeta indivíduos, instituições e a sociedade como um todo. Fruto desta importância, os psicólogos tentam fazer mensurações as mais puras possíveis, mas alguns destes testes têm se tornado controvertido pelo fato de que muitas pessoas suspeitam que eles sejam enviesados de uma ou outra maneira. A despeito da ampla variedade de aplicações e manifestações, todas as avaliações ou mensurações devem compartilhar um conjunto de propriedades ou características comuns elas devem ser fidedignas, válidas, padronizadas e livres de vieses. Há boas e más avaliações, e há uma ciência de como maximizar a qualidade da avaliação. Esta ciência é a psicometria. E, não há certamente outro aspecto do campo da psicologia que tenha tido tamanho impacto na vida dos indivíduos.
O quê é uma medida psicométrica?
Um teste psicológico consiste numa situação experimental padronizada que serve de estímulo a um dado comportamento ou constructo que se pretende mensurar. Este comportamento é avaliado mediante uma comparação estatística com comportamentos similares de outros indivíduos colocados na mesma situação. A partir desta comparação podem-se classificar os indivíduos quantitativa e qualitativamente em função do constructo sendo mensurado. O teste psicológico desempenha um tipo de mensuração, mas diferente das medidas físicas, tais como comprimento ou peso, há uma confusão considerável sobre o que de fato o teste mede e quão bem ele faz isso. Um problema particular reside no fato de que o quê está sendo mensurado não é um objeto físico, mas sim uma variável/constructo interveniente ou uma entidade hipotética. Por exemplo, ao aferir se um teste de inteligência está realmente mensurando "inteligência", nós não podemos comparar o escore de um indivíduo no teste diretamente com a sua inteligência real ou verdadeira. Nós estamos restritos em verificar como os escores dos testes diferenciam entre indivíduos inteligentes e não inteligentes de acordo com algumas outras ideias de como os indivíduos inteligentes se comportariam. A mensuração de constructos iguais a inteligência é limitada pela clareza com que somos hábeis em definir o significado destes constructos, e isto tem se tornado um problema particular para os testes de inteligência. Dentro do debate acerca da testagem da inteligência, tem sido amplamente mencionada a chistosa definição de inteligência como sendo meramente o que é mensurado pelos testes de inteligência. Todavia, os testes de inteligência devem estar mensurando muito mais do que isto, pois, caso contrário, eles não necessitariam correlacionar-se com alguma coisa. Mas, o quê mais eles estão mensurando? Para responder a esta questão devemos prontamente reconhecer que os problemas encontrados são de natureza muito mais conceitual do que científica.