Triste Educação

Triste Educação

Há tempos, não leio, não ouço e nem vejo qualquer notícia alvissareira sobre Educação no Brasil. Isso vale para o ensino médio, para as universidades e demais manifestações educacionais informais. Dentre os exames do ensino médio, o ENEM 2015, em adição aos variados rankings nacionais e internacionais envolvendo nossas universidades, todos recentemente divulgados, demonstraram, cada um com seu propósito, um cenário simplesmente desolador. Entretanto, antes de comentar os dados dos mesmos, os quais aqui me interessam mais amiúde, quero destacar que, ao longo das últimas semanas, especialmente em Ribeirão Preto, bela terra dos canaviais, uma notícia sobre educação local, divulgada nas mídias falada e escrita, me fez refletir sobre o quão “importante” é a educação municipal.

Noticiou-se que verbas destinadas a nossa educação municipal eram, de algum modo, desviadas, com a devida concordância do nosso “cultíssimo” Secretário da Educação, para o nosso tanque de “cérebros”, a CODERP. E daí, então, diluía-se a dita verba para uma tal Atmosphera. Podemos constatar que Educação é realmente importante e, em especial, em Ribeirão Preto, vive nas nuvens, ou seja, vira fumaça. Recomendo, assim, que o próximo Prefeito, elimine todos esses vermes que contaminam a Educação Municipal para que a mesma volte a espelhar a qualidade que sempre a caracterizou ao longo das últimas décadas. A propósito, quero destacar que, a despeito desses problemas, e das más gestões tanto do secretário quanto do Executivo, a qualidade da formação dos professores municipais, até onde conheço, é de alto nível. Comparável as que existem nas melhores escolas do país. Inclusive com aquela de instituições federais de ensino público. O lamentável, entretanto, é que esses professores não sejam reconhecidos por tal. Dadas boas condições para que os mesmos possam exercer sua profissão, o processo de ensinagem segue bem. Voltemos, então, aos dados do ENEM 2015.

Tais dados são simplesmente contrastantes. Os dados publicados pelo Inep, no dia 04 deste mês (ainda que tenham esquecido as instituições públicas federais, o que será corrigido no final do mês), revelaram a vergonhosa disparidade da educação desse gigante, ainda adormecido, e ainda repleto de larápios, tal qual revelado pela Lava Jato, chamado Brasil. Mostraram que, nada menos que 91% das unidades públicas, ficaram abaixo da média nacional no ENEM, enquanto que, no sistema privado, esse índice foi de 17%. Entre as 100 escolas que melhor se saíram no país, apenas 3 são públicas; entre as mil, só 49 (nova divulgação poderá alterar esse cenário; lembrando que a média geral é calculada a partir das notas das provas objetivas sobre linguagens, matemática, ciências humanas e ciências da natureza).

O interessante, todavia, é que, invariavelmente, nossos analistas em Educação, tanto da mídia quanto das Academias Especializadas, afirmam, categoricamente, que uma análise das notas médias das escolas corrobora a importância da renda, ou nível socioeconômico, dos pais, como um fator causal desta elevação nas escolas públicas. Cabe, aqui, então, o velho mantra da ciência que afirma que correlação não prova causalidade. Com isso quero dizer que um outro fator, estatisticamente mais robusto, pode estar subjacente a esta elevação da renda, bem como, dos escores das notas do ENEM. Logo adiante o nomearei.

Também foi destacado pelos mesmos analistas que, em algumas escolas que estão no quintil mais elevado do ranking das notas, é feito um processo seletivo com algumas a, até, aplicar testes cognitivos para selecionar os melhores estudantes. Em outras palavras, estas escolas querem os melhores alunos que gorjeiam nessa terra. Veja, por exemplo, o editorial de um dos jornais locais do município que, ao comentar o que faz a diferença entre o sistema público e o privado de nossas escolas nos escores do ENEM, destacou a necessidade de modernizar o método e agilizar o ritmo de aprendizagem, além de afirmar que, salário e formação dos professores, estrutura física da escola, e outros avanços, seriam, e o são, fatores fundamentais para justificar tal disparidade. Além disso, também no referido editorial, exemplificou-se que vários prêmios Nobel de ciência não tiveram o privilégio de contar, ao longo de sua formação, com artifícios tecnológicos, muitos destes usando apenas lousa, lápis e papel, e nunca sites de busca para suas pesquisas, o que não os tornou menos brilhantes. Ora, não há novamente qualquer correlação entre estrutura escolar e alto desempenho escolástico ou entre estrutura escolar e premiação do Nobel. O que há, de fato, ressalto aqui, uma vez que os analistas e o editorial acima citados, demonstraram desconhecer, e que os nossos políticos fazem questão de nem conhecem, é que o elemento misterioso que está correlacionado com o alto desempenho escolástico, aqui incluindo o Nobel, é a inteligência. Espelhada, usualmente, no QI.

Desde Galton e Darwin, até o exato momento em que escrevo esta crônica, centenas de artigos mostrando que inteligência está altamente correlacionada, do ponto de vista estatístico, com indicadores escolásticos, econômicos, sociais, de saúde e, também, com indicadores de desigualdades e de pobreza, circulam pelo mundo. E isto independente de a unidade de análise ser indivíduos, Estados, regiões ou nações. Acredito em algo que um velho professor húngaro já falecido (terra que já frutificou mais de 10 prêmios Nobel) nos ensinou em sua sabedoria: nunca se pôde conhecer tanto, e nunca se quis conhecer tão pouco. Triste Educação.

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