Um indicador nacional de felicidade (INF)

Um indicador nacional de felicidade (INF)

Ao longo da história da humanidade, houve momentos, quando muitas das necessidades básicas eram inatingíveis, que os indicadores econômicos, numa primeira aproximação, espelhavam o quão bem uma nação estava se desenvolvendo. Porém, com o rápido progresso sócio-econômico e tecnológico e, por conseqüência, quando as nações tornaram-se mais ricas e as necessidades básicas foram, em grande parte, alcançadas, os indicadores econômicos progressivamente perderam seu importante papel. Isto porque tem sido constatado que entre as culturas, as pessoas estimam o bem-estar subjetivo como o mais importante elemento de sua vida e mais importante que o sucesso material. Bem-estar subjetivo está associado à vários resultados positivos, incluindo, por exemplo, desempenho no trabalho e saúde. Ademais, bem-estar subjetivo parece não apenas monitorar os eventos de vida, mas também, desempenha um importante papel na rede causal de realizações positivas alcançadas ao longo da vida de um indivíduo.

Assim considerando, os pesquisadores têm argüido que os indicadores econômicos nacionais devem estar conectados à um indicador nacional de bem-estar subjetivo nas nações desenvolvidas. Se, de um lado, a riqueza tem triplicado ao longo dos últimos 50 anos, de outro lado, por exemplo, o bem-estar tem sido uniforme, a doença mental tem aumentado até mesmo mais rapidamente e dados, não exatamente lembranças nostálgicas, indicam que a fabrica social está mais desgastada do que foi nos tempos de aprendizes. Estas incongruências têm levado os pesquisadores a advogarem a implantação de um sistema de indicadores a ser instituído pelos governos e organizações com o propósito de monitorar o bem-estar subjetivo ao longo do tempo.

É aparente para os dirigentes e também para os políticos que eles devem dar atenção especial ao bem-estar, em adição à economia, haja vista que políticas públicas atuais estão sendo implementadas baseando-se em meros palpites e sentimentos românticos sobre o que enriquece o bem-estar (por exemplo, abandonar a família). Certamente, estes palpites são corretos em alguns casos, mas eles são incorretos em outros casos. Por esta razão, a implantação de um sistema de mensuração do bem-estar subjetivo em amostras representativas e em diversos domínios da vida é torna-se fundamental para confirmar ou refutar a eficácia das intervenções públicas instituídas para melhorarem o bem-estar.

Idealmente, estes indicadores de bem-estar subjetivo poderiam incluir amostras aleatórias de sentimentos e/ou emoções positivas e negativas que ocorrem diariamente na vida de um indivíduo, usualmente ao longo de uma a quatro semanas. Estes indicadores poderiam ser coletados de amostras nacionalmente representativas as quais forneceriam valiosas informações de quão freqüente e intensamente as pessoas se sentem satisfeitas e felizes em várias circunstâncias de sua vida e entre diferentes tipos de situações. Deste modo, os indicadores de bem-estar subjetivo dos indivíduos de vários grupos etários, regiões, municípios, estados, categorias profissionais e ocupacionais e níveis de renda poderiam ser comparados, e os dirigentes políticos e líderes organizacionais poderiam mais acertadamente considerar o bem-estar subjetivo em suas tomadas de decisões.  Se um indicador nacional de bem-estar subjetivo estivesse disponível, as intervenções públicas poderiam ser julgadas, em parte, em função de como elas influenciaram a felicidade percebida. Estes indicadores de bem-estar subjetivo poderiam incluir vários componentes, tais como afetos positivos, afetos negativos, satisfação com a vida, auto-realização e, também, estados mais específicos, tais como estresse, afeição, confiança e prazer.  O “Eurobarometer” conduzido nas nações européias pode ser tomado como um modelo para um indicador que poderia ser implementado no Brasil e conduzido pelo Governo Federal, Estadual ou Municipal. A partir deste indicador nacional os pesquisadores poderiam determinar quais segmentos da sociedade são menos felizes e, talvez, proporcionar políticas que possam ajudá-los.

Um indicador nacional de bem-estar subjetivo informaria a uma sociedade pós- materialista acerca do equilíbrio desejável no trabalho, nas relações afetivas, nas atividades de lazer e recreativas, bem como na espiritualidade. Embora as nações mais ricas sejam, em média, mas felizes, é importante que elas reconheçam que os recentes ganhos em renda nas nações mais ricas não têm sido beneficiados no bem-estar subjetivo. Assim, pode haver pouco ganho em termos do bem-estar individual em incentivas as pessoas a ganharem simplesmente mais dinheiro. A felicidade duradoura pode originar-se mais das atividades envolvidas no trabalho, na participação das relações afetivas íntimas, na vivência de prazeres físicos renováveis e em estar envolvido em atividades autotélicas. Assim, qualidade de vida é tão importante para o bem-estar subjetivo quanto a renda. Em outras palavras, se os indicadores nacionais de bem-estar subjetivo estivessem disponíveis anualmente, eles poderiam fornecer informações valiosas as quais potencialmente poderiam enriquecer e iluminar as tomadas de decisões políticas, bem como as escolhas individuais. Por conseqüência, várias questões poderiam ser respondidas, tais como as seguintes: A religiosidade torna as pessoas mais felizes? São os efeitos da pobreza sobre o bem-estar subjetivo mediados pelo nível dos serviços básicos, tais como saúde e educação, que estão disponíveis? Qual a relação direta entre renda e bem-estar subjetivo em diferentes segmentos da população? A relação entre renda e bem-estar subjetivo depende do consumo, ou seja, de como as pessoas gastam suas rendas?

Em resumo, a vantagem principal de um indicador nacional de bem-estar subjetivo é que tornar-se-iam claro em quais domínios as pessoas são mais ou menos satisfeitas, assim sugerindo onde as intervenções públicas seriam mais necessárias. Além disso, este indicador nacional teria uma função educacional, alertando as pessoas para os fatores que influenciam o seu próprio bem-estar subjetivo.

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