Um nutriente para o corpo todo: a Vitamina D

Um nutriente para o corpo todo: a Vitamina D

Tradicionalmente, Vitamina D tem sido primariamente associada com saúde óssea, sendo constatado que sua deficiência ocasiona raquitismo em crianças e osteomalacia e osteoporose em adultos. Todavia, é conhecido que Vitamina D é importante para o bom funcionamento de muitos órgãos e tecidos do corpo humano, incluindo os sistemas endócrino e cardiovascular. Recentemente, foi demonstrado que os receptores de Vitamina D estão presentes em variados tecidos celulares, incluindo miócitos, cardiomiócitos, células beta-pancreáticas, células vasculares endoteliais, neurônios, células imunes e osteoblastos. Prevalecendo em diversos segmentos populacionais mundiais, nestes incluindo crianças, adultos e idosos indistintamente, a deficiência, ou insuficiência, de Vitamina D gera, entretanto, uma pandemia mundial que, infelizmente, permanece não reconhecida e não tratada, motivo pelo qual é caracterizada como um problema de saúde pública.

Associada com estilos de vida restritos à ambiente internos, determinadas estratégias de proteção solar, obesidade, diabetes melito, baixos níveis de colesterol HDL, envelhecimento, distância do Equador, pele escura, estação de inverno, poluição do ar, tabagismo, má absorção, doença renal e hepática e medicação (anticonvulsivantes, glicocorticóides, antirejeição e terapia ao vírus da imunodeficiência humana), a deficiência de Vitamina D tem sido indicada, em inúmeros estudos recentemente publicados, como detentora de importante papel na etiologia, e desenvolvimento, dos fatores de riscos para o diabetes e as doenças coronário vasculares.  Em outras palavras, deficiência de Vitamina D parece predispor à hipertensão, diabetes e à síndrome metabólica, hipertrofia ventricular esquerda, insuficiência cardíaca congestiva e inflamação vascular crônica.

Assim considerando, torna-se importante revisar a relação existente entre três significativos problemas de saúde pública: deficiência de Vitamina D, o diabetes e as doenças cardiovasculares. Os aspectos a serem abordados, assim discriminando-se: 1) o papel da Vitamina D na etiologia e desenvolvimento dos fatores de riscos para o diabetes e as doenças cardiovasculares; 2) como a reposição de Vitamina D pode melhorar o prognóstico e saúde daqueles com diabetes e doenças cardiovasculares e 3) quais as recomendações práticas, e específicas, para restaurar, e manter, níveis saudáveis de Vitamina D nos pacientes diabéticos e cardiovasculares.

A abundância de receptores de Vitamina D no tecido cutâneo, além do tecido ósseo, certamente desviou a atenção das doenças ósseas para as condições crônicas. Por isso, vários ensaios clínicos foram extensivamente realizados, manipulando diferentes níveis de estágios de diabetes melito, com o propósito de verificar o papel da Vitamina D, bem como, de analisar a eficácia de sua suplementação. Como resultado, constatou-se que, manter a Vitamina D em níveis adequados pode ser uma técnica preventiva útil, haja vista que níveis adequados da mesma, em adultos saudáveis, foram inversamente associados com risco futuro de DM2. Por adição, quando comparados pacientes diabéticos e não diabéticos, correlação negativa significativa entre 25 (OH)D e níveis de DM1 também foi observada. Em ambos, doses de Vitamina D nos anos iniciais da vida mostraram-se eficazes em reduzir os fatores de riscos envolvidos no desenvolvimento de doença modulada por efeitos imune protetivos.

Recentemente, a relação entre prováveis fatores de riscos para doenças cardiovasculares e níveis de 25(OH)D foi explorada entre 15.088 indivíduos provenientes da coorte nacional conhecida como NHANES III. Nesse estudo transversal, níveis de 25(OH)D foram inversamente associados com hipertensão, diabetes melito, hiperglicemia e obesidade. Outros estudos transversais têm confirmado a conexão entre deficiência da vitamina D com hipertensão e diabetes. Ademais, deficiência de Vitamina D predispõe à resistência a insulina, disfunção celular beta pancreática. Estudo registrou que um consumo diário de 800 IU de Vitamina D, quando comparado com um consumo diário de < 400 IU de Vitamina D, reduziu o risco de DM2 em um terço. Outro estudo, envolvendo crianças às quais foram dadas 2.000 IU de Vitamina D3 por dia, no primeiro ano de vida, experenciou uma redução de risco de 78% em adquirir DM1 ao longo de 31 anos de monitoramento. Estes achados têm sido confirmados por metanálises efetuadas em diferentes estudos observacionais, como, por exemplo, em metaestudo realizado por Forouhi et al, que encontrou forte relação inversa entre o nível inicial de 25(OH)D e incidência de DM2. 

A suplementação de Vitamina D também melhora os indicadores de DM1 para crianças com DM1 quando estas são tratadas com dose única de Vitamina D na dose 300.000 IU, administrada via intramuscular, juntamente com 40 mg∕Kg∕dia de cálcio, divididas em duas doses. Uma relação inversa significativa entre status da Vitamina D e resistência à insulina também foi observada, independente da adiposidade, em adolescentes. Cumpre destacar que níveis de Vitamina D são seguros e benéficos à saúde quando associados a diabetes gestacional e DM1. Suplementação de Vitamina D durante a gravidez tem efeito positivo em relação ao peso e tamanho do bebê e uma relação inversa com a diabete gestacional. Tomados juntos, os dados de vários estudos até então publicados, revelaram, invariavelmente, que Vitamina D está fortemente envolvida no controle glicêmico, metabolismo de lipídeos, secreção de insulina e sensibilidade, explicando a associação entre deficiência de Vitamina D e síndrome metabólica. Logo, dentro de uma amplitude recomendada, o consumo de Vitamina D é considerado, categoricamente, benéfico.

Por sua vez, tem sido demonstrado que, o envolvimento da Vitamina D em diversas vias metabólicas media os benefícios para a saúde, reduzindo os riscos através de seus efeitos em várias síndromes cardiovasculares. Estudos clínicos suportam um papel da Vitamina D em manter a saúde cardiovascular tanto através da ação direta da vitamina sobre os cardiomiócitos, quanto indiretamente, através das ações sobre os níveis hormonais e de cálcio circulantes. Estudos têm demonstrado associações entre baixos níveis de Vitamina D e aumento da atividade da renina plasmática, calcificação das artérias coronarianas, pressão sanguínea e doença cardiovascular. I. Wang et al efetuando uma metanálise de 17 estudos prospectivos, e ensaios randomizados, encontraram que doses de suplementos de Vitamina D, variando de moderadas a altas, podem reduzir o risco de doenças cardiovasculares, com benefícios vistos, principalmente, em pacientes recebendo diálises.

Outro interessante estudo, realizado por T.J. Wang e colaboradores, envolvendo mais de 1.700 participantes, com 59 anos em média, e sem qualquer doença cardiovascular, que tiveram seus níveis de 25(OH)D mensurados, dados indicaram que os participantes com 37 nmol∕L tiveram uma razão de risco para eventos cardiovasculares de 1.62 (p=0,01) comparados com aqueles com níveis mais elevados de 25 (OH)D. Pesquisadores concluíram que níveis baixos de Vitamina D são conectados com doenças cardiovasculares, ou seja, infarto do miocárdio é duas vezes maior em pacientes deficitários de Vitamina D, comparados àqueles dentro da amplitude suficiente.

Similarmente, estudo prospectivo, que mensurou níveis de Vitamina D em adultos submetidos a cateterismo cardíaco eletivo, por um período de 7,7 anos, identificou que, indivíduos, no quartil inferior em relação à medida inicial de 25(OH)D, tiveram um risco de morte, ajustado, duas vezes maior, especialmente de morte cardiovascular, quando comparados àqueles no quartil mais elevado de Vitamina D. Outro estudo prospectivo de casos controlados, envolvendo mais de 18.000 homens, encontrou correlação estatisticamente significativa entre níveis baixos de 25(OH)D e elevado risco para infarto do miocárdio, mesmo após ajustamentos terem sido feitos para os fatores de riscos tradicionais.

Tal estudo confirmou os achados de outros pequenos estudos que buscaram, com apuro, analisar a associação entre o status de Vitamina D e os desfechos cardiovasculares.

 

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