Um velho debate: genética versus ambiência

Um velho debate: genética versus ambiência

           A genética vem mudando o mundo num ritmo progressivo e expressivo. Já não se passa um dia sequer sem que a mídia, falada e escrita, deixe de comentar alguma descoberta genética que afete o comportamento complexo humano, seja na depressão, esquizofrenia, obesidade, fumo etc, núcleos pontuais, que são, da genética comportamental. Um exemplo recente? Nestes dias que antecedem os jogos olímpicos, inúmeras têm sido as reportagens que indagam o que faz, de um cidadão comum, um grande campeão, tão notável como Usain Bolt, famoso velocista jamaicano, cuja habilidade, pergunta-se, estaria em seus genes ou se deve-se, exclusivamente, a intenso treinamento, ou ambos.             Atualmente é possível analisar, e modificar DNAs, objetivando investigar doenças graves e tratá-las antes que elas ameacem a vida. De modo similar, é possível, também, prender criminosos e inocentar pessoas, bem como, criar fontes de energia que possam proteger o planeta. Nosso conhecimento em genética mostra-se, portanto, capaz de informar, e influenciar, as áreas médicas e de saúde pública, agricultura, energia e ambiente, além de leis, direitos e políticas público-sociais. Não obstante essa aparente grandeza da genética, destaca-se, a ausência da Educação nesta lista de informações e influências apresentada, ou seja, as escolas permanecem intocáveis pelas lições da genética.

            Em relação á inteligência, há dois diferentes tipos de genética comportamental. O primeiro, denominado Genética Quantitativa, sendo o que indaga “Em que extensão os genes contribuem para as diferenças de inteligência?” O segundo, sendo denominado Genética Molecular, sendo o que indaga “Quais são os genes específicos no DNA que, quando diferem entre as pessoas, causam diferenças na inteligência?”. Diferenciar esses campos é importante pelo fato de ser possível conhecer se há efeitos genéticos sobre a inteligência sem, necessariamente, conhecer qualquer gene específico para tal. Para analisar influências genéticas da inteligência sem usar o DNA, o cientista tem estudado os gêmeos. Naturalmente, há dois tipos de gêmeos: os idênticos, que se desenvolvem do mesmo óvulo, com, aproximadamente, 100% de DNA idêntico, isto é, clones um do outro, e os fraternos, que desenvolvem-se de diferentes óvulos, que compartilham cerca de 50% do DNA, tão relacionados um com o outro como o são os irmão comuns. Neste contexto, vasta quantidade de conhecimento em Genética Quantitativa tem sido obtida comparando esses dois tipos de genes. Desta quantidade, cumpre destacar que, em geral, os escores de QI correlacionam-se por volta de 0,80 entre gêmeo idênticos e por volta de 0,55 entre gêmeos fraternos, indicando que o QI dos gêmeos idênticos são muito mais similares do que os escores de QI dos gêmeos fraternos. Obviamente, a única razão para isso é genética, dado que a única coisa que difere os dois tipos de gêmeos, capaz de fazê-los mais similares, haja vista que cada par é criado na mesma família, é a porcentagem de genes que eles compartilham.

            Por adição, tratemos de ambiência. O que, de fato, ambiência engloba? Em estudos envolvendo gêmeos, ambiente é dividido em dois tipos, o ambiente compartilhado e o não compartilhado. O compartilhado cobrindo todas as coisas que podem fazer um par de gêmeos mais similar um com o outro: a parentalidade, o número de livros na casa, a classe social da vizinhança etc. O não compartilhado cobrindo as coisas que fazem os gêmeos diferentes: os professores, os colegas de grupo e as experiências particulares que ocorre para cada um dos gêmeos que compõem o par. Do mesmo modo que a Genética, grande é a quantidade de dados indicando conclusões reveladoras sobre o papel desses ambientes sobre a inteligência. Nestas, surpreende a muitos que, tomando todos os dados sobre gêmeos ao redor do mundo, o ambiente compartilhado parece ter pequeno efeito sobre a inteligência. Um exemplo? Se medirmos a inteligência na maturidade, quase toda a variância é explicada por uma combinação de genes e o ambiente não compartilhado. Excluindo os casos de negligência para com as crianças, as coisas que os pais fazem não parecem ter forte efeito na inteligência de suas crianças ao longo da vida. Em outras palavras, a principal razão que pais brilhantes tendem a ter crianças brilhantes decorre dos genes que eles transmitem, e não por causa de suas decisões ou estilos de parentalidade.

            Se fôssemos capazes de criar uma sociedade com nenhuma variação ambiental, cada criança sendo criada identicamente, atendendo escolas idênticas, tendo amigos idênticos e tudo mais, veríamos, então, uma herdabilidade (variação genética num dado traço) mais elevada, desde que a única coisa permitida variar fossem os genes. Assim, a herdabilidade da inteligência (ou de qualquer outro traço) pode ser observada como um indicador de quão igual nossa sociedade o é. Há evidências de que, pelo menos em países que não tem securidade social para todos, e, assim, apresentam maior disparidade em seus ambientes, herdabilidade tende a ser maior e mais elevada nas crianças de famílias na extremidade mais elevada no contínuo das classes sociais. Na realidade, o debate acerca da genética versus ambiente sempre fará emergir à tona um debate entre desigualdade e oportunidade.

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