No Vale da sombra da morte

No Vale da sombra da morte

No dia 25 de janeiro, ocorreu o rompimento de uma barragem de rejeitos de minério em Brumadinho – município a 65 km de Belo Horizonte/MG. Controlada pela empresa Vale, considerada uma das maiores mineradoras do mundo, a exploração de minérios vem movimentando o mercado financeiro abrindo brechas para que tragédias aconteçam por falta de investimento em segurança.

O rompimento de mais uma barragem de rejeitos, traz impactos socioambientais imensuráveis, semelhantemente ao de Mariana. Especialistas em direitos humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) pediram uma investigação imparcial sobre o colapso mortal bem como sobre a toxicidade dos resíduos da mina de minério de ferro de propriedade da Vale.

Sem levar em conta o fator ganância, o que uma tragédia como esta pode causar no meio ambiente? Quais os impactos socioambientais possíveis de serem analisados no momento?

Vamos fazer um comparativo com o que ocorreu em Mariana em 2015 em relação ao desastre deste ano em Brumadinho:

 

Mariana

Brumadinho

Lama (m3)

43,7 milhões

12,7 milhões

Extensão

600 km

300 km

Mortos

19

centenas

 

 

 

 

A lama de Brumadinho não se espalhou tanto quanto a de Mariana por ter propriedades mais densas. Considerando o número possível de mortos, podendo chegar até 400 pessoas (estimativa), é considerado o maior desastre trabalhista da história do Brasil. Mariana foi considerado o maior desastre ambiental do Brasil e relacionado à mineração, o maior do mundo!

Quando a mineradora retira a matéria-prima de seu interesse, o subproduto, considerado “lixo” é depositado em um espaço. Pode parecer estranho, mas a construção de barragem é uma medida ecológica. Anteriormente à construção de barragens, os rejeitos eram descartados diretamente nos rios. Hoje em dia, os rejeitos quando chegam ao seu limite dentro da barragem são descartados a cada 3 ou 5 anos no rio, em média. O que temos que entender é que a forma como essas barragens estão sendo construídas e o jeito como a mineração vem sendo feita no Brasil é criminosa – não há fiscalização.

Diversos especialistas previam que ocorreria rompimento de mais barragens, justamente pela maneira como são construídas em nosso país – de forma mais rápida, mais barata e claro, menos segura.

Uma alternativa segura para que se caso ocorresse de romper alguma barragem, seria a construção por um processo conhecido como “Deslamação” – que seria como deixar o rejeito em estado mais sólido. A Vale possui algumas barragens construídas desta forma, porém, não são todas como podemos perceber. Devido ao alto custo, não há investimento nesse sentido. Optando por uma forma mais barata e rápida de exploração de recursos minerais, a empresa se coloca como responsável por não assegurar que a extração de minérios e o depósito de rejeitos seja adequada, colocando em risco pessoas e meio ambiente.

Atualmente no Brasil existem 45 barragens com riscos de rompimentos, sendo que a de Brumadinho não constava neste lista.

Ao se romper, uma barragem de rejeitos impacta o meio ambiente e questões sociais também são fortemente afetadas. Quando a lama começa a se espalhar temos, por exemplo, os seguintes impactos socioambientais:

1. Soterramento: de pessoas, animais, plantas, microrganismos (bactérias, fungos, protozoários),

2. Sucessão ecológica: a lama sendo rica em minério de ferro ao secar, deixa o local pavimentado e o solo pobre em matéria orgânica – dificultando o processo de sucessão ecológica – nunca mais teremos uma floresta se instalando na região;

3. Rio Paraopeba: afluente do rio São Francisco – assoreamento (sedimentos na água – aumento da turbidez, impedindo espécies de sobreviverem, e por consequência de muitas morte, aumenta o processo de decomposição diminuindo o disponibilidade de oxigênio na água para que outras espécies utilizem); oxidação pela reação do minério de ferro com o oxigênio; luz solar não penetra na água impedindo que organismos que realizam a fotossíntese mantenham-se vivos; em resumo temos a morte do Rio Paraopeba;

4. Destruição de cadeias alimentares;

5. Aumento de doenças relacionadas à mosquitos: malária, leximaniose, febre amarela..dentre outras;

6. Bioacumulação: acúmulo de metais pesados na cadeia alimentar;

7. Doenças como câncer a médio e longo prazo

Possíveis soluções para minimizar os impactos:

1. Desassoreamento do rio;

2. Plantio de mata ciliar (plantio de gramíneas nas margem do rio para que a sucessão ecológica ocorra mais rápido e impede o impacto da água da chuva diretamente no rio contaminado); Vale lembrar que essa medida não foi adotada no Rio Doce em Mariana;

3. Indenização das pessoas;

4. Apoio aos sobreviventes (assistência médica, psicológica, de moradia, alternativa aos pescadores que dependiam do rio)

Até quando teremos a impunidade de empresas gananciosas visando apenas lucro, recorrendo às multas ambientais e sendo atendidas ???

A impunidade no Brasil é muito mais barata do que investir em segurança...

“É mais importante dinheiro ou pessoas?”, escreveu Márcio Paulo Barbosa Pena Mascarenhas em uma rede social em fevereiro de 2018. Dono da pousada Nova Estância, nos arredores da operação da Vale em Brumadinho, Márcio de queixava dos danos da mineração na área. “Estão acabando com tudo em volta”, escreveu na época. Quase um ano depois, seu corpo foi identificado entre os 84 mortos pelo vazamento de lama da barragem da Vale em Brumadinho (MG) nesta quarta-feira (30), um dia antes de ele completar 75 anos.

Referenciais:

https://www.youtube.com/watch?v=B3RACgkxoH8

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/01/vale-pode-lucrar-com-interrupcao-de-barragens-como-a-de-brumadinho.shtml

Foto de capa: Vista aérea da região afetada pelo rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG) (Andre Penner/AP) site: https://veja.abril.com.br/brasil/tragedia-de-brumadinho-nao-e-acidente-afirma-procuradoria/

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