Vírus: mocinho ou vilão?

Vírus: mocinho ou vilão?

“Só sei que nada sei” (Sócrates)

Não há um consenso em Biologia que define conceitualmente esses seres extraordinários. Os vírus são máquinas espetaculares com incrível capacidade de infecção e replicação. São entidades biológicas compostas em sua maioria, de cápsulas proteicas que abrigam em seu interior o material genético. São parasitas intracelulares obrigatórios.

Dráuzio Varella ressalta que “como a estrutura química dos genes de vírus, bactérias, plantas ou seres humanos é idêntica, genes virais podem colonizar genomas alheios e integrar-se ao patrimônio genético da espécie infectada. A surpreendente biodiversidade dos vírus, sua capacidade de infectar os mais diversos organismos, a velocidade com a qual se multiplicam no interior das células e as mutações sofridas por eles fazem das partículas virais a maior fonte de inovação genética que a vida foi capaz de engendrar em nosso planeta”.

Um artigo de revisão intitulado “The good viruses: viral mutualistic symbioses” escrito por Marilyn J. Roossinck publicado na Nature Reviews Microbiology - um dos periódicos de maior prestígio acadêmico traz em seu abstract:

“Embora os vírus sejam frequentemente estudados como patógenos, muitos são benéficos para seus hospedeiros, fornecendo funções essenciais em alguns casos e condicionalmente benéficas em outros. Vírus benéficos foram descobertos em muitos hospedeiros diferentes, incluindo bactérias, insetos, plantas, fungos e animais. Como essas interações benéficas ocorrem ainda é um mistério em muitos casos, mas, conforme discutido nesta revisão, os mecanismos dessas interações estão começando a ser entendidos com mais detalhes”.

Alguns vírus de mamíferos podem proteger seus hospedeiros de outras infecções que causam doenças; outros destroem seus concorrentes como ocorre em leveduras; um vírus fúngico confere tolerância térmica a uma planta em uma simbiose complexa envolvendo seu hospedeiro fúngico e a planta que o fungo coloniza; vários vírus conferem mutualismo condicional, aumentando a tolerância de algumas plantas à seca; há muitas interações mutualísticas de vírus com seus hospedeiros; vírus podem reparar o DNA. Uma das principais funções ecológicas dos vírus é o controle de populações microscópicas em ecossistemas aquáticos, por exemplo.

Marc Doourojeanni – Consultor e professor emérito da Universidade Nacional Agrária Lima no Peru em seu artigo “Coronavírus: uma interpretação ecológica” salienta que:

“A humanidade invade os ecossistemas naturais e os modifica drasticamente, degradando-os e liberando involuntariamente microrganismos de seus hospedeiros naturais. De fato, mais de 70% das doenças novas e emergentes que infectam seres humanos se originaram em animais. Os patógenos desses animais, cada vez mais escassos devido à caça e à destruição de seus ecossistemas, em busca de novos hospedeiros, atravessam a fronteira entre animais e humanos e se espalham rapidamente. Além disso, os animais selvagens que são forçados a viver em habitats degradados ou antropogênicos têm alimentação inadequada ou insuficiente e saúde debilitada, portanto, são mais propensos a serem afetados por vírus e, quando consumidos ou manipulados, infectam seres humanos”.

Diante da incrível máquina viral percebe-se nitidamente que houve propósito, intenção e uma perfeita engenharia em sua criação, sendo originalmente bons. No entanto, existe a culpabilidade antrópica, que causa perturbação ambiental, levando, no caso, os vírus a mutações e adaptações que os tornam altamente patógenos. Foi o que, provavelmente, ocorreu com o SARS-Cov-2, onde, mutações causaram alterações nas proteínas capsulares possibilitando que essas proteínas abrissem a “fechadura” das células humanas. Interagimos com animais selvagens, cometemos erros humanos e contraímos o vírus.

 

Temos pouco conhecimento. Quanto mais estudamos, mais descobrimos o quão prejudicial tem sido a ação do homem na natureza. Com isso, colhemos as consequências, boas ou ruins.

 

Referências:

Marilyn J. Roossinck. The good viroses: viral mutualistic symbioses. Nature Reviews Microbiology. Vol 9. 2011.

https://www.youtube.com/watch?v=pNEudrqedQM  - O Coronavírus à Luz do Design Iinteligente – por Dr. Marcos Eberlin

https://biomonica.wordpress.com/2011/06/01/importancia-ambiental-dos-virus/

 

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