Visão humanista da sustentabilidade

Visão humanista da sustentabilidade

Este artigo foi escrito por HENRIQUE RATTNER sendo intitulado “Sustentabilidade – uma visão humanista”

O autor quebra um pouco a visão reducionista que muitos de nós temos em relação ao atual uso da palavra “sustentabilidade”, nos levando a refletir e estabelecer conexões reais com o mundo, por esta razão, partilho parte deste artigo aqui no blog.

Segue trechos do artigo, o qual está disponível na íntegra no endereço: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414753X1999000200020&lng=en&nrm=iso

[...] “A fórmula atualmente usada nos discursos políticos e científicos, “...economicamente viável, socialmente equitativo e ecologicamente sustentável”, não leva a formas e meios de combinar e integrar metas e valores derivados das teorias sobre progresso técnico e produtividade com a proteção e conservação dos recursos naturais e do meio ambiente. Com relação à reivindicação de equidade intra e inter-gerações e redução de disparidades nos níveis nacional e internacional, a fórmula é ainda menos satisfatória.

O conceito de sustentabilidade transcende o exercício analítico de explicar a realidade e exige o teste de coerência lógica em aplicações práticas, onde o discurso é transformado em realidade objetiva.

Os atores sociais e suas ações adquirem legitimidade política e autoridade para comandar comportamentos sociais e políticas de desenvolvimento por meio de prática concreta. A discussão teórica, portanto, revela uma luta disfarçada pelo poder entre diferentes atores sociais, competindo por uma posição hegemônica, para ditar diretrizes e endossar representações simbólicas de sustentabilidade, seja em termos de biodiversidade, sobrevivência do planeta ou de comunidades autossuficientes e autônomas.

Sustentabilidade também nos remete a uma dimensão temporal pela comparação de características de um dado contexto ecológico e sociocultural no passado, presente e futuro. O primeiro serve como parâmetro de sustentabilidade, enquanto que o último requer a definição do estado desejável da sociedade no futuro. Experiências políticas passadas, que tentaram impor às gerações presentes os sacrifícios necessários para construir o futuro revelam o relacionamento conflituoso e complexo subjacente a um problema aparentemente simples conceitual ou taxonômico. Enquanto as práticas dominantes na sociedade (econômica, política, cultural) são determinadas pelas elites de poder; essas mesmas elites são também as principais referências para a produção e disseminação de ideias, valores e representações coletivas. Assim, a força e a legitimidade das alternativas de desenvolvimento sustentável dependerão da racionalidade dos argumentos e opções apresentadas pelos atores sociais que competem nas áreas política e ideológica. Cada teoria, doutrina ou paradigma sobre sustentabilidade terá diferentes implicações para a implementação e o planejamento da ação social.

A qualidade de sustentabilidade reside nas formas sociais de apropriação e uso de todo o meio-ambiente – não apenas dos recursos naturais. Muitas formas socioculturais de apropriação não capitalistas do meio ambiente se tornam “insustentáveis” quando são invadidas e “desenvolvidas” pelas práticas capital intensivas dominantes. A busca da sustentabilidade, portanto, leva a tensões e conflitos sociais. Enquanto os acadêmicos discursam sobre “população máxima” ou o uso de indicadores, tende-se a ocultar a especificidade social e política da apropriação dos recursos naturais.

Os incentivos e privilégios associados aos mecanismos e políticas de mercado aumentam a desigualdade e reforçam os atores sociais poderosos que resistem à extensão dos controles democráticos. Para resumir, o debate corrente sobre a sustentabilidade exige um quadro teórico que ainda está para ser elaborado.

Portanto, é útil começar com uma breve revisão dos principais argumentos que as várias correntes e atores têm desenvolvido a fim de dar plausibilidade e substância às suas diversas reivindicações de sustentabilidade. ” [...]

 

* HENRIQUE RATTNER - Foi professor titular da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV, professor titular aposentado da FEA/USP, e coordenador do programa Prolides da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Lideranças (ABDL).

Sustentabilidade – uma visão humanista por HENRIQUE RATTNER

Fonte: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414753X1999000200020&lng=en&nrm=iso

 

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