Batalha contra o cigarro

Batalha contra o cigarro

Dr. Dráuzio Varella, o ex-fumante mais militante do Brasil vem perturbando os fumantes. Depois dele, os fumantes perceberam que na verdade, mesmo não sentindo, todos querem parar de fumar. Afinal de contas, fumante tem mau hálito, a pele feia, vai morrer de câncer e é um pouco mau caráter.

Grande parte do hábito de fumar carrega uma idealização e aspectos bastantes subjetivos de identificação. Era moda fumar. Os artistas e celebridades fumavam e isso foi reflexo de uma propaganda forte das empresas de tabaco e porque tomar drogas é coisa muito prazerosa. Agora a culpa de estar se matado aos poucos é bem maior que o prazer de fumar e então milhares de fumantes estão pensando em parar... ou já estão parando. Para você ver como as coisas são relativas quando falamos das coisas humanas. A nicotina deixou de dar prazer? Não! O hábito está sendo condenado socialmente e por isso não dá mais tanto prazer como dava. Fumar é feio. Virou tabu.

Bem, como as coisas não são tão simples como os médicos e burocratas desejariam, eu gostaria de tentar esclarecer algumas coisas. Há por trás dessa cruzada contra o fumo (e contra os fumantes por consequência) duas coisas:

(1) a ideia de que o fumante dá prejuízos para o sistema de saúde público;

(2) a ideia de que não podemos fazer nada que nos faça mal mesmo que isso seja prazeroso, mesmo que gostemos disso.

O primeiro ponto é interessante. Em um dos países que mais arrecada impostos no mundo, com uma gestão de saúde decadente, uma corrupção galopante temos esse disparate que coloca uma minoria como parte responsável por gastos públicos desnecessários. Quer dizer então que o sujeito não pode adoecer porque tem o hábito de fumar? Ele deixa de ser cidadão com direito à saúde porque fuma?  E outra coisa: o tabagismo não é a principal praga da saúde e sim a hipertensão (dados da Organização Mundial de Saúde). Há relação entre tabagismo e hipertensão? Sim. Mas ela é mais diretamente relacionada com hábitos alimentares excessivos e a vida moderna inevitavelmente estressante. O tabagismo vem como um fator de risco sobretudo em pessoas geneticamente predispostas. Junto então dessa batalha contra hábitos nefastos não podemos mais ser gordos, comer picanha e fumar. Ao combater o hábito se condena o sujeito que efetua o hábito; prova disso é a anorexia e bulimia cada vez mais diagnosticada no mundo. Aliás, é bom dizer, que essas pessoas representam uma minoria que de fato não sobrecarrega e nunca vai sobrecarregar um sistema publico de saúde nenhum. E quanto ao alcoolismo que é bem mais perigoso? Em outras palavras, novamente: a culpa não é da gestão de saúde pública e dos ministérios e sim de meio dúzia de fumantes ou alcoólatras que sobrecarregam o sistema de saúde. Simples assim. Como diz um amigo meu: “no Brasil as coisas são invertidas... é o poste fazendo xixi no cachorro”.

O segundo ponto diz respeito a nossa individualidade e a aspectos bastante pessoais. Qual é o valor de uma afirmação como esta: “Nenhum fumante gosta de fumar. Ele fuma porque é um viciado e não pode abandonar o vicio. Ele não tem escolha” Isso é mentira porque simplesmente a maioria das pessoas que tentam parar de fumar realmente param e porque muita gente simplesmente gosta de fumar (e me enquadro nessa categoria).

Acredito que os seres humanos sempre vão tentar encontrar algo que lhes satisfaça de alguma forma: fumando, bebendo, brigando, utilizando um celular e etc. Será que somos capazes de viver sem algum tipo de droga?

O cigarro tem funções para o indivíduo que o utiliza. Muitas vezes atua como antidepressivo ou como ansiolítico (calmante). Muitas vezes é a única forma de prazer de alguns que têm uma vida miserável. Muitas vezes é o único bom amigo de alguém que não consegue sair do apartamento. Muitos ex-fumantes caem em depressão, ganham peso além do desejado, adquirem diabetes e hipertensão, ficam intratáveis e vivem a base de remédios psicotrópicos. Quero dizer que na boa intenção de fazer alguém parar de fumar podemos ganhar outros problemas de saúde.

Para finalizar, creio que em média o trabalho do Dr. Dráuzio vai produzir efeitos, pois a ideia de para de fumar está na moda e a rede Globo é poderosíssima. Mas esses efeitos não vão reduzir gastos como sistema de saúde público de modo a melhorá-lo de fato, ou seja, mesmo que todos parem de fumar você vai reclamar do sistema de saúde, e não vai tornar as pessoas melhores ou mais felizes, embora seja essa a ideia principal dessa campanha de sanitização do comportamento humano. 

Boa sorte ao Dr. Draúzio - na infinita luta contra os hábitos humanos - cuja visão exclusivamente médica do ser humano o torna um chato de plantão. 

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