Dolly guaraná: corrupção e luxo

Dolly guaraná: corrupção e luxo

Laerte Codonho, dono da marca Dolly de refrigerantes foi preso e essa notícia me tocou.

As investigações apontam fraude fiscal estruturada, organização criminosa e lavagem de dinheiro. O dinheiro desviado com a fraude é estimado em R$ 4 bilhões.

Mas porque essa notícia me tocou ao ponto de me motivar a escrita de um texto?

Porque adoro os videos do dollyinho? 

Não.

A sensação que tenho é que vivemos no Brasil a ressureição da justiça. Não estou dizendo que a justiça está sendo “feita”, ou que o Brasil está se tornando um país justo. Digo que as instituições, pelo menos, estão funcionando, investigando e prendendo gente muito poderosa.

Dessas muitas prisões e investigações podemos observar que a quase totalidade dos casos de corrupção, acompanha uma coincidência: todos os canalhas e corruptos tem um gosto irrefreável pelo luxo e a ostentação deste luxo.      

Na casa de Laerte (em condomínio de luxo) foram apreendidos R$ 300 mil em dinheiro, 13 carros de luxo e 3 helicópteros, sendo que 2 estavam em hangares irregulares.

O LUXO

O Luxo é uma consequência do desenvolvimento tecnológico e cientifico e marca um período em que as sociedades passam a experimentar objetos, serviços e situações antes experimentadas apenas por grupos muito reduzidos (nobres, reis, rainhas). É considerado por muitos autores um dos responsáveis pelo desenvolvimento comercial que a humanidade experimentou desde o século 18. A igreja foi a primeira a atacar esse desejo irrefreável pelo Luxo.

Monzani (2011, p. 69), aponta esse processo de mudança muito importante no psiquismo humano, quando o Luxo passa a integrar cotidianamente as sociedades. Ele diz que “o problema do luxo faz o primeiro rompimento com a cadeia tradicional:

NECESSIDADE – DESEJO – SATISFAÇÃO

e remete a outra:

DESEJO – NECESSIDADE INDETERMINADA – ELABORAÇÃO IMAGINÁRIA – CONCRETIZAÇÃO DO OBJETO – SATISFAÇÃO FUGAZ – DESEJO

Percebam que na segunda cadeia de eventos

1. O desejo se antecipa a necessidade;  

2. A necessidade não é determinada por situações ambientais concretas;

3. A satisfação é fugaz;

4. O desejo não termina nunca é infinito, irrefreável, insaciável, pois é resultado de uma dialética serial imaginária.

Enfim, Laerte ou os integrantes da “Máfia da Merenda” (grupo que anda desviando recursos milionários de prefeituras de vários estados) e todos os canalhas corruptos, são vítimas desse processo. Uma espécie de vicio, de dependência. E justificam esse vício pois - sem isso, e sem o luxo, as sociedades não prosperam (prosperidade no sentido capitalista: poucos ganhando muito e muitos ganhando pouco).

Dolly, o refrigerante, cujos filmes comerciais consistem nos mais horrorosos que se pode ter notícia (de tão ruins viraram “cult”) mostram que no fundo todo canalha parece ser o mesmo.

Megalomaníacos e paranoicos, consideram-se “o melhor”, colocam-se sempre em comparação com os outros e têm certeza de que os outros o estão perseguindo por causa de seu "sucesso" na verdade inexistente.

Insensíveis, não são capazes de se comprometerem com suas próprias falas, dão lições rasas de moral com as quais não se envolvem.

São egoístas, embriagados de si mesmo, acumulam bens para si não importando os meios.   


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

MONZANI, Luiz Roberto. Desejo e prazer na Idade Moderna. 2. ed. Curitiba: Champagnat,

2011.

 

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