É melhor já ir se acostumando, Jair

É melhor já ir se acostumando, Jair

Esta frase pipocava em posts de redes sociais e outdoors, fazendo um trocadilho com o nome de Jair Bolsonaro que crescia assustadoramente nas pesquisas de intenção de voto. Mas acho que ninguém botava fé que Bolsonaro pudesse de fato ocupar o cargo mais importante do país. Mas ocupa hoje.

Estamos nos acostumando?

Besteiras que ele falava, não passavam de chavões eleitoreiros para chamar a atenção de gente que se sente oprimida pelo progresso do mundo e dos costumes. Afinal, aquele “tiozão do pavê”, o protótipo do fascista brasileiro enrustido sempre diz: “Na minha época não era assim: homem era homem mulher era mulher”; “Na minha época, eu andava na rua com segurança”.

Nos acostumamos com isso?

O ataque contra tudo que é civilizado - desde a cadeirinha de bebe em carros, radares em rodovias, aulas de trânsito até políticas de proteção a minorias e fatos históricos e científicos.

Nos acostumamos com isso também? Dizemos que isso é cortina de fumaça para distrair a opinião pública? Coitado, ele não tem filtro, fala o que pensa?

Eis o erro. Ele fala, mas não pensa.

Pensamento é alguma coisa que passa longe pela mente de Bolsonaro. A mente de Bolsonaro contem convicções sobre um mundo simples, onde

1. Homem é homem, mulher é mulher.

2. Homem trabalha, mulher cuida da casa,

3. Mulher tem instinto materno, deve ser mãe e, portanto, não aborta,

4. Homem é violento, então a mulher deve proteger se dele, vestindo roupas recatadas;

Esses itens formam a mente de Bolsonaro quanto ao que ele chama de base da sociedade, a família. Preservar isso a todo custo é sua tarefa. E assim, ele não ve problema algum em praticar nepotismo indicando seu próprio filho ao cargo de embaixador nos EUA. Não vê problemas em dizer que gays são doentes e que o feminismo é um desvio de caráter. Não vê problema em culpabilizar a mulher violentada ou que ouse mostrar que tem desejo de ser algo mais que uma mãe/dona de casa.

Quanto ao Estado ele é convicto de que

1. O estado deve ser minimizado e não atrapalhar a vida dos empresários;

2. Os empresários geram empregos e empregos geram desenvolvimento;

3. Minorias precisam se adequar e dar um jeito por si mesmas;

4. Políticas públicas sociais produzem vagabundos.  

Essas convicções estão embebidas em dois líquidos que se misturam bem: o militarismo e a religiosidade.    

Temos a mente de Bolsonaro. Uma sopa de convicções, mas não de pensamentos. Uma mente selvagem que precisa ser alfabetizada.

Eis então a importante tarefa dos que não se acostumaram e não se acostumarão nunca com isso. Forçar um processo de alfabetização civilizatória a ele e aos que o apoiam.

Ao presidente, é necessário que se imponham as Leis de responsabilidade como a Lei 1079 – a mesma que impediu Dilma, que trata dos crimes de responsabilidade e exige decoro ao cargo.

Quanto aos que o apoiam é um pouco mais complicado. Amigos e familiares que se sentem representados por Bolsonaro e ainda o defendem são parte de uma cultura muito viva no Brasil. Uma cultura que é resultado da péssima qualidade da educação (e, por consequência, na idolatria do não-pensar) e de um passado enraizado na violência e desigualdade social, e assim, não será nada fácil conviver com eles ou fazê-los pensar de outra forma. Eu penso que é preciso distanciar-se de fãs de Bolsonaro, neste momento.

É bom persistir, mas com paciência. Discussões, argumentos podem não valer de nada, pois, como eu disse, não há pensamento.

A ideia de Bolsonaro é de nos acostumar ao que é monstruoso, é normalizar o absurdo. Cada semana uma torrente de desumanidades e incongruências. A resistência a este “acomodamento” significa assegurar o pouco de futuro que resta para o Brasil.

É melhor não nos acostumarmos!

Compartilhar: