Einstein, Freud e os buracos negros

Einstein, Freud e os buracos negros

Sigmund Freud e Albert Einstein são grandes nomes sem dúvida!

Nesta semana que passou a comunidade científica apresentou mais uma conquista sensacional: a descoberta de ondas gravitacionais previstas por Einstein há 100 anos. A primeira coisa sensacional é que o fato de conseguirmos captar essas ondas vai fornecer uma nova maneira de observar o universo. A segunda coisa sensacional é que Einstein - com papel e caneta – conseguiu estudar e prever um fenômeno natural obscuro e difícil de conceber, até para as mentes mais férteis. Mas, o que mais a caneta de Einstein escreveu?

Em 1931 foi criado o Instituto Internacional para a Cooperação Intelectual pela Liga das Nações (órgão semelhante a ONU) e Einstein foi um dos primeiros convidados. Einstein convidou Freud e os dois se comunicaram por carta [1].

Einstein apresenta duas questões relativas a tão falada e desejada paz mundial:

“(...) parece ser o mais urgente de todos os problemas que a civilização tem de enfrentar. Este é o problema: Existe alguma forma de livrar a humanidade da ameaça de guerra?”

e mais

"(...) É possível controlar a evolução da mente do homem, de modo a torná-lo à prova das psicoses do ódio e da destrutividade?"

Einstein, ou longo da carta cita a relação entre “poder” e “direito”. Freud centraliza o problema na “violência” e na “lei”.

Primeiro, a violência do indivíduo mais forte sobre os mais fracos, com a finalidade de destruir e eliminar o inimigo, realizando assim um instinto humano.

Em segundo, passa a ser mais interessante subjugar - e não matar – o inimigo. Isso é útil, mas traz o risco constante de rebeliões e vingança.

Assim, em terceiro lugar, Freud escreve

“A violência podia enfim ser derrotada pela união, e o poder daqueles que se uniam representava, agora, a lei, em contraposição à violência do indivíduo só. Vemos, assim, que a lei é a força de uma comunidade. Ainda é violência, pronta a se voltar contra qualquer indivíduo que se lhe oponha; funciona pelos mesmos métodos e persegue os mesmos objetivos. A única diferença real reside no fato de que aquilo que prevalece não é mais a violência de um indivíduo, mas a violência da comunidade”  (...) uma comunidade se mantém unida por duas coisas: a força coercitiva da violência e os vínculos emocionais (identificações é o nome técnico) entre seus membros."

Freud explica sobre sua nova teoria dos instintos (instinto de vida e instinto de morte) e alfineta o velho Einstein

“Por que o senhor, eu e tantas outras pessoas nos revoltamos tão violentamente contra a guerra? Por que não a aceitamos como mais uma das muitas calamidades da vida?”

Então Freud coloca como uma tarefa impossível ir contra o instinto de morte ou destrutividade inerente à todos os seres humanos (e vivos), pois eliminá-lo é eliminar também forças de coesão do próprio tecido social.  

Freud e Einstein previram nesta carta o fortalecimento de um órgão centralizador de decisões, a Organização das Nações Unidas e ainda os mecanismos e caminhos pelos quais a cultura pode subjugar, para o bem ou para o mal, os instintos.

Einstein e Freud? Dois nomes importantes. Dois exploradores de buracos negros! O buraco que interessava Einstein está mais acima e infinitamente longe... o de Freud mais em baixo.. ou mais por dentro.

No final da carta, o velho Freud aponta um caminho 

“Por quais caminhos ou por que atalhos isto se realizará, não podemos adivinhar. Mas uma coisa podemos dizer: tudo o que estimula o crescimento da civilização trabalha simultaneamente contra a guerra.”


[1] https://areas.fba.ul.pt/jpeneda/FreudEinstein.htm

 

 

Compartilhar: