Facebook: onde os sonhos acontecem

Facebook: onde os sonhos acontecem

Já há algum tempo percebi que as pessoas não confiam tanto nos médicos, psicólogos, dentistas como antigamente. 

Vários motivos levam à isso, mas a atitude de certos profissionais corroboram tal sentimento de desconfiança. Coleciono ao longo de um curto tempo, muitas queixas relativas aos profissionais da saúde. Ouço coisas de dar medo! Mas não cabe aqui relatar isso.

Ao mesmo tempo, em minhas pesquisas pelo Facebook e também por relatos de pacientes, percebo que os profissionais dessa área não possuem o mínimo de pudor e discrição em relação ao que fazem ou onde estão, postando fotos dos hospitais e clínicas onde trabalham fazendo poses e caras.

Outro dia vi fotos de garotas médicas de jaleco, sorrindo e fazendo posse de modelo (ombro de lado e fazendo símbolo de V com os dedos) numa ala de pacientes com câncer, e logo acima a descrição "amigas p sempre!! o fds chegou!!!baladaaaaa!!" Em outra oportunidade, uma psicóloga posava na praia de biquini em cima de algumas pedras com uma lata de cerveja na mão... (observando que as fotos estavam publicadas no modo "público", ou seja, para todos verem).

Um grande mal da nossa época é que todos estão pagando um mico tremendo por falta de educação nas redes sociais e nunca foi tão fácil e rápido ser boçal, mesmo sem querer.

Mas o que as pessoas desejam mostrar publicando aspectos tão particulares de suas vidas?

Um dado que tenho é que, quanto mais comprometida é a vida do sujeito, mais ele faz questão de publicar compulsivamente. Por exemplo, quanto mais um sujeito tem problemas afetivos com a namorada, mais ele faz questão de exibir fotos e postagens de amor; como se na internet houvesse uma compensação de uma realidade deficiente e medíocre. Ao postar que “ama a namorada” ou uma foto bonita das últimas férias, o sujeito sente que um passo foi dado. Há uma espécie de efeito terapêutico no ato de postar algo no Facebook. Esse efeito terapêutico me parece ser semelhante ao efeito de uma “psicoterapia”, em que o sujeito se sente acolhido e sente fazer parte de uma história com começo, meio e fim em uma linha do tempo organizada. O Facebook se torna um conjunto de registros de memórias e desejos do que a vida poderia ser. Por mais que aquele jantar em que você tirou 30 fotos pelo Instagram tenha acabado com uma bela briga, o registro dele lhe faz crer piamente que aquele foi o melhor jantar da sua vida (e seus amigos também acabam acreditando nisso...). Nesse sentido, o efeito catártico/terapêutico (de desabafo e organização da experiência psíquica) dessa atividade é efêmero e cria falsas percepções da realidade e uma falsa ideia de que há uma resolução de conflitos.

Falei no inicio dos profissionais de saúde, mas outra categoria que é bastante expressiva no facebook são os professores, que publicam insistentemente frases e fotos que comunicam a falta de valorização ou a dificuldade deste importante trabalho em um país que deu as costas para a educação.

Enfim, o Facebook é o lugar dos sonhos modernos, onde os desejos humanos são sugados e eliminados para o ralo triturador das estatísticas de venda e compra. 

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