Felicidades
Talvez este texto seja curto. Curto como a vida. E percebemos isso nos piores momentos.
Geralmente os cemitérios são lotados dessa percepção dura e inequívoca de que a vida passa, de que as pessoas tem prazo de validade e de que todos já nascemos devedores: todos nós devemos uma vida à natureza. E não tem negociação.
Entre o corte do cordão umbilical e o “trec trec” dos parafusos no seu caixão, você faz o que? Basicamente, deseja.
Você foi feliz?
Desejar felicidades aos familiares nesse época do ano é algo inevitável. Um simples presente comprado na última hora faz todo o efeito para dizer o que não conseguimos dizer, que não é de bom tom dizer: dizer que somos bons e que ainda temos capacidade para amar e se importar com alguém.
Existe a felicidade?
A felicidade é experimentada pelos nossos sentidos em relação à pontos diferentes no tempo. Somos felizes se nossas memórias passadas e nossos desejos futuros permitirem um cálculo com algum saldo positivo. O aqui e agora é sentido como feliz, se o passado da memória e o desejo do futuro assim o permitir. A felicidade também é um presente que ganhamos, uma recompensa de um trabalho feito. Qual é o trabalho? Basicamente, desejar.
Desejar é simplesmente tocar a vida. Ter energias para isso. Desejar é a energia que temos para tocar a vida... e ao tocar a vida recebemos um presente chamado felicidade. Um presente extremamente perecível e efêmero.
Desejar paz e amor, é o mesmo que desejar a morte. Porque paz e amor são estados esgotados de desejo.
Quando desejamos felicidades, desejamos que alguém continue a desejar... continue a trabalhar sobre andaimes frouxos que circundam um edifício invisível entre você e o mundo.
O meu desejo é esse. Que você continue desejando e que tenha certo juízo para reconhecer as felicidades que recebe e as valorize... porque felicidade passa, a vida passa em um triz.
Enfim, desejo felicidades!