A invasão dos Zumbis: propaganda política suja a cidade limpa

A invasão dos Zumbis: propaganda política suja a cidade limpa

Em Ribeirão Preto vivemos um processo de limpeza visual da cidade. Lojas foram obrigadas à reformar suas fachadas e a cidade visivelmente está ficando mais bonita. O problema é o seguinte: cada um acha que seu loja ou sua empresa vale tanto, mas tanto que deve ser anunciada em painéis e fachadas coloridas, com letras enormes  que piscam e engolem os olhos de quem está passando de carro.

O problema se agrava quando todos os proprietários de lojas pensam da mesma forma e a cidade vira uma imundice em termos visuais. Como se marcas e serviços fossem as coisas mais importantes e geniais do mundo. Esconde-se tranquilamente uma linda árvore de 20 metros para se afixar uma propaganda. Obstrui-se a visão do céu e da arquitetura da cidade.

A lei cidade limpa merece respeito porque tem uma premissa básica: “menos é mais”.

Agora estamos em plena campanha eleitoral, e já podemos sentir aquela estranhas sensação de que o mundo está sendo invadido por zumbis. Estes zumbis não querem morder seu cérebro eles querem seu voto. E para regular o apetite desses zumbis há leis da propaganda. Explico essa estranha imagem dos Zumbis. Sinto que a terra está sendo invadida por Zumbis, porque em todos os outros períodos do ano esses seres não aparecem, não discutem planos políticos, não desejam fazer propaganda, não se envolvem em criar uma verdadeira cultura politica. E é exatamente isso que faz com que uma democracia vá para o beleléu: a política é um evento e não uma cultura. É uma festinha de zumbis sedentos por sangue e não um processo de debate de idéias.

Dia desses li um texto que fazia uma relação entre a baixa quantidade de outdoors, bandeiras e toda sorte de publicidade com um rebaixamento do nível do processo eleitoral, desqualificação do voto e o cheque mate da democracia.  Uma relação um pouco apocalíptica e exagerada. Ou seja, se não há anúncios políticos (na verdade, fotos de zumbis chamados “santinhos”)  não há voto correto, não há boa qualidade de políticos eleitos e a democracia tão sonhada se esvai. Não concordo com essa relação.

De que maneira olhar para a cara de um sujeito sorrindo num santinho  ou outdoor com um número em destaque, colabora para a democracia? Penso que isso colabora muito mais para o descaso no ato de votar e - sabendo disso exatamente no dia da eleição as ruas amanhecem forradas de papel, para que eleitores se “informem melhor”. Esse tipo de publicidade política (chamada publicidade de venda) visa a venda de produtos e não o debate e esclarecimento. Em Ribeirão Preto temos iniciativas interessantes, como a revista Revide abrindo seu espaço para ideias dos candidatos e o programa Fala Sério (Canal 20, Ribeirão Preto) apresentando por Rodrigo Camargo que tem realizado debates e troca de ideias interessantes.

Acho que esses sim são esforços no sentido de dar mais qualidade aos votos: informar de maneira mais profunda, acabar com a publicidade de venda na política e criar uma cultura política em que os políticos passem a atuar como autores de um processo e não como personagens de teatro com carinhas sorridentes em um santinho ou outdoor mal feito.

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