MAHNA MAHNA: CRIATIVIDADE E TRANSGRESSÃO ADOLESCENTE

MAHNA MAHNA: CRIATIVIDADE E TRANSGRESSÃO ADOLESCENTE

Talvez você já tenha visto “Mahna Mahna”, um quadro do famoso programa de bonecos, o “The Muppets Show” criado pelar “Muppets Inc” de Jim Henson e Frank Oz em meados dos anos 60.

Em 1968, junto com a “Sesame Workshop”, é criado o programa “Sesame Street”, um programa de televisão educacional para “crianças” (não acho isso...), produzido nos EUA. Com cerca de 4.100 episódios produzidos em 36 temporadas, tornou-se um dos programas de televisão com mais duração da história. Foi apresentado em 120 países, muitos com versões locais adaptadas, dentre os quais Portugal (Rua Sésamo), Brasil (Vila Sésamo) e Canadá (Sesame Park). (https://pt.wikipedia.org/wiki/Sesame_Street)

A música “Mahna Mahna” é cantada por três fantoches: um homem das cavernas e duas criaturas peludas de cor-de-rosa. O homem das cavernas dá o tom, e os dois bonecos rosa seguem na resposta da melodia. No entanto, o homem das cavernas, não resiste: transgride a melodia e elabora improvisos o que deixa os dois bonecos rosa admirados e um paulatinamente irritados.

Ver este vídeo no YouTube foi uma experiência estranha. Logo pude observar o comportamento transgressor do tal homem das cavernas, e como isso irrita algumas pessoas. Bem sabemos que é difícil conviver com pessoas que improvisam, que inventam coisas na hora, por exemplo, um adolescente.

Hoje ele gosta de rock, amanhã de pagode. Hoje está com o cabelo rosa, amanhã com a cabelo azul. Hoje ele quer estudar para fazer faculdade, amanhã quer tocar em uma banda e ser famoso. Um adolescente é um típico ser mutante vivendo uma fase sensacional de mudanças, impulsionadas pelas descobertas de sua própria “mente” (incluo neste termo “mente” o corpo inteiro do sujeito).

Na verdade, a maioria dos adolescentes não sabem o que são, para que estão vivos, o que vão ser no futuro e, no mais das vezes, pouco se importam com estas questões - que o atravessam inconscientemente.

É sentido apenas um desconforto, uma incessante busca por um “não-sei-o-que”, de maneira “sei-lá-como”. Uma inquietude.

Mas porque isso? Porque ao longo dos milhares de anos de evolução biológica, mantivemos essa característica peculiar desta fase do desenvolvimento? Sendo teleológico e pretensioso: para que serve a adolescência?

É de comum acordo que é uma fase do desenvolvimento normal de qualquer ser humano, marcada por transgressões, e posterior aceitação ou não de regras sociais, brigas familiares e busca de identidade. Palavras que funcionam muito mais como um guia para pais e educadores desesperados do que como uma definição propriamente dita.

Assim, os mais velhos, com seus conselhos mil, dizem: “Você tem que fazer isso... fazer aquilo!”. “Na minha época, eu faria isso de tal modo!” Com certo medo, os pais tomam atitudes muitas vezes, desesperadas como castigos, imposição de regras e limites absurdos. Isso reforça a condição adolescente de transgressora. Há um certo prazer em fazer o que os pais não deixam, ou fazer o que os pais jamais fariam, como se a adolescência fosse um período em que o ser biológico fosse impelido a não repetir o que os pais fizeram, ou questionar tais regras e orientações, para enfim fazer tudo diferente. É como se a vida forçasse os organismos a aumentar o seu repertório de atuação no meio ambiente, tornando a espécie humana mais diversa e com mais possibilidades de sucesso no planeta.

Voltando ao “Mahna Mahna”: os criadores do quadro conseguiam tornar leve, divertido e legal, um episódio de transgressão muito comum em nossas vidas, e que muitas vezes é visto e sentido como uma ameaça, e como se fosse um perigo eminente. Além disso, a transgressão vem em boa hora, quando nos revoltamos contra regras impostas por nós mesmos e a nós mesmos, ocasionando uma repetição de padrões que nos fazem sofrer e perder muito tempo de vida.

Então, que nos revoltemos contra nós mesmo em busca de “sei-la-o-que”... como fazem muito bem os geniais adolescentes.

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