Marcelo Pesseghini: o garoto que sabia demais

Marcelo Pesseghini: o garoto que sabia demais

O Prof. Renato Janine Ribeiro (filósofo e professor de ética e política da USP-RP), em seu Facebook (10/9/2013) convida os psicanalista a discutirem o laudo dado ao menino Marcelo Pesseghini que foi declarado culpado de matar os pais, a avó e a tia-avó e cometer suicídio.

Prof. Renato dispara: "Não vi discutirem o laudo que aponta para o menino Marcelo como assassino dos pais. Creio que os psicanalistas, em especial, podem discordar dele. É claro que o resumo jornalístico pode simplificar um pouco o laudo, mas pergunto a quem conhece o assunto (a psicologia, quero dizer): o que acham?"

Pelo que vi do laudo e posto que o "resumo jornalístico" esconde muitas coisas, penso que o laudo é mais uma resposta à sociedade e à família do que propriamente um tratado científico sobre um comportamento ou patologia. Além disso, a mente humana é matéria de difícil estudo. Numa metáfora, se pensarmos a mente humana como uma forma de bolo, nem sempre teremos um bolo de fubá quando seguimos a receita exata. Por isso fica difícil discutir os ingredientes necessários para se ter um bolo, ou no caso, uma resposta comportamental.

O laudo reúne fatos da vida do garoto e os coloca como fatores influenciadores/desencadeadores do crime; mas os fatos juntos não são suficientes para explicar o que vimos. Videogame, um pai que não representa “a lei”, incentivo à quebra de regras, uma doença crônica...    

Para mim, tudo começa com o diagnóstico da doença. O triste dessa história me parece ser a relação que esse garoto tinha com a morte. Médicos chegaram a estimar que o garoto vivesse até os 4 anos devido a uma fibrose cística - doença degenerativa que ataca principalmente os pulmões e sistema digestivo. Posteriormente, afirmaram que, possivelmente, não chegasse aos 18. Devido à doença, o menino era proibido pelos pais de brincar na rua e de sair com os amigos, o que o irritava.

Podemos considerar os médicos como culpados? Afinal, qual impacto psicológico de uma notícias dessas em uma criança? E me pergunto: qual  função de um esclarecimento desses? Você dizer para um garoto que ele vai viver até os 18 anos? O doente precisa ter essa informação? Isso ocasionou uma angústia enorme no garoto que passou a ser superprotegido pelos pais e impedido de brincar e se relacionar com colegas de maneira apropriada. Podemos culpar então os pais? 

Se o garoto Marcelo enlouqueceu, ele o fez com propriedade. Enlouqueceu em resposta à certas condições de vida enlouquecedoras e sabidamente nocivas: mimos e cuidados excessivos, proibições de brincar e se relacionar e uma vida com prazo de validade definido.   

 

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