Meninas e meninos separados na escola?

Meninas e meninos separados na escola?

Ontem Eduardo Bolsonaro lançou a ideia de separar meninos e meninas nas escolas.

Automaticamente muitos, inclusive eu, se posicionaram contra.

Segurei a onda e depois de pensar um pouco fui pesquisar sobre isso.

Vi que na Islândia, que é um dos países mais iguais em termos de gênero no mundo, há uma iniciativa educacional que separa garotos e garotas, utiliza uniformes e etc. já há mais de 30 anos.

Tudo isso pode parecer obsoleto mas a fundadora do projeto (chamado Modelo Hjalli -  https://www.hjallimodel.com/ ) Margrét Pála Ólafsdóttir diz que o modelo foi uma resposta a indisciplina e outros problemas comportamentais que estava destruindo os kindergartens (pré escola, jardim da infância). E assim ela foi tentando de tudo, inclusive separar a garotada. 

Antes de torcer o nariz é bom saber que esse modelo se aplica na pré-escola (kindergartens) e escolas fundamentais (idade de 6 meses a 10 anos) e há atividades em que a garotada toda se mistura. São questionadores e anti tradicionalistas, montam seus próprios brinquedo e livros. Aliás, a palavra que dá nome ao modelo islandês, hjalli, significa algo como superar dificuldades ou quebrar tabus...

No site, há uma pergunta respondida que tomei a liberdade de traduzir com grifos meus.

"Estou curioso para saber mais sobre o seu sistema, por exemplo, por que você tem grupos escolares divididos por gênero?
 
Para promover a igualdade na sala de aula, trabalhamos com grupos de pessoas do mesmo sexo na parte mais significativa do dia e em ambientes mistos o resto do tempo. Quando as crianças estão em grupos de mesmo sexo, trabalhamos para libertá-las dos papéis tradicionais de gênero e do comportamento estereotipado. Queremos garantir que meninas e meninos recebam atenção e oportunidades iguais.
Quando as crianças estão em ambientes mistos, garantimos que a experiência entre as crianças seja positiva, que colaborem em projetos e mostrem respeito mútuo. É muito importante que eles se divirtam juntos, sentindo-se igualmente fortes e capazes.
Quando as crianças estão em ambientes de sexo único, realizam trabalhos de compensação, o que significa que fortalecemos o gênero em características que, respectivamente, precisam ser trabalhadas e fortalecidas. Acreditamos que as meninas, em geral, precisam de mais incentivo para falar, ocupar espaço e ficar sozinhas. Os meninos, por outro lado, podem precisar ser incentivados a se expressar, tanto sobre suas emoções quanto também quando entram em desacordo. Os meninos geralmente precisam trabalhar em seus comportamentos sociais, como conexões com os outros e expressão.
Ter grupos de pessoas do mesmo sexo não é um objetivo em si, mas um meio de trabalhar em prol da igualdade."
 

Tenho quase certeza que Eduardo Bolsonaro não deve gostar muito disso e, por traz de sua manifestação, há um desejo conservador de separar meninos e meninas para que seja mais fácil ensinar os valores do macho latino americano, estupido e violento e os valores da fêmea., submissa e do lar.

Na visão de mundo dos Bolsonaros, menino é menino e menina é menina. Nada contra esta visão de mundo, apenas o fato de que ela não representa a realidade em humanos e em quase nenhum mamífero. Enfim, essa discussão é longa.

Ou seja, o que na Islândia foi uma iniciativa no sentido de aumentar a igualde entre gêneros, no Brasil pode ser o contrário. Mas não serei injusto com Eduardo, devo a ele a abertura do debate. Obrigado Eduardo!

Acho genial a ideia de reforçar as diferenças – que naturalmente aparecem como efeito de grupo - para promover a empatia e igualdade entre gêneros. Não se trata de dizer “somos todos iguais”, mas sim, “que somos todos diferente e isso é bom!”. Enfim, para saber mais sobre as especificidades do modelo é só entrar no site, que é muito bom por sinal.

O que quero compartilhar com vocês é que se realmente defendemos valores democráticos, é na democracia que buscaremos as saídas. Rechaçar a tentativa de abertura de debate proposta por Eduardo Bolsonaro, ou qualquer Bolsonaro ou ultradireitista, é uma medida radical e burra.

O problema é que nos deliciamos com isso: ser contra eles é reafirmar nosso eu.

Obviamente, sabemos das intenções e do pensamento estreito que motiva a ultradireita governante, mas, o que faremos nesses próximos 3 anos?  Penso que devemos abrir mais e mais o debate, botar a ciência e a experiencia mundial para conversar.   

Uma coisa devo confessar: os Bolsonaros são metidos a besta ... verdade que muito mais bestas que metidos, hehe.

 

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