Meu cachorro não é um “pet”
Fiquei um tempo sem escrever mas explico. Foram dias difíceis. O motivo foi a batalha que eu e meus amigos travamos contra um doença terrível que acometeu nossa cachorra. Ela nos acompanhou durante todos os anos da faculdade e se tornou uma espécie de símbolo da nossa amizade e cumplicidade. Com sua morte nós percebemos que algo se foi, algo se transformou. Nunca imaginei que pudesse sofrer luto por um cão… Mas afinal: amamos os cães como se fossem pessoas, ou alguém da nossa própria família?
Vemos muitos “pet shops” pela cidade e já podemos imaginar que ter um “pet” (que coisa horrível essa denominação) tem certo valor hoje em dia. E então, passeando pelos parques (ou shoppings) vemos cães com roupinhas, lacinhos na cabeça, sendo chamados de bebê, ou filhinho… como se fossem um filho do dono e não um cão ou animal de estimação. Acho bizarro ver isso. Mas afinal de contas, as pessoas acabam se apegando demais à esses bichos e os tratam como se fossem… humanos. Então, tratar bem um animal de estimação significa tratá-lo como se fosse da nossa família? Como se fosse um humano? Conheço um cão que teve problemas nas articulações ainda bem novo, porque dona fazia questão de carregá-lo no colo. Era o típico cachorro de apartamento, histérico e castrado para “não dar trabalho”.
Fico aqui pensando como podemos acreditar que retirar a sexualidade de um animal fará bem para ele? Os veterinários sempre recomendam a castração e citam os inúmeros benefícios dessa mutilação. Mas mutilar um ser vivo para que ele possa conviver melhor com os humanos beira o absurdo. Foi a solução para que as madames possam ter seus caezinhos quietos nos apartamentos e para que os pet shops pudessem lucrar e abastecer o mercado… tudo, é claro, baseado em estudos científicos muito confiáveis e com o pretexto ecológico de reduzir o numero de animais abandonados na cidades. Configura-se, na minha opinião, uma cenário horroroso em que os humanos cruelmente retiram algo intrínseco da natureza canina (ou felina) para possuírem um bibelô, uma companhia, um filho que não puderam - ou não tiveram coragem de - ter.
E é dessa natureza canina que sinto falta quando penso na minha cachorra que morreu. Ela teve tratamento VIP, ou seja, foi tratada como um cão. Teve duas ninhadas lindas, era feliz e parece que nos agradecia por esse respeito.Respeitávamos esse ser vivo, suas necessidades caninas, suas manias caninas, suas particularidades caninas. Amávamos ela porque ela era... um cão... um bom cão e não um “pet”