Não li e não gostei!
Na fila do supermercado somos forçados a observar vários produtos, em estantes estrategicamente colocadas, geralmente dirigidas às crianças. Entre salgadinhos, balas e outras porcarias a maior porcaria que vi nos últimos tempos: a revista Veja de 25 de abril de 2012.
Uma capa com fundo amarelado mostra um sujeito alto, magro, com cara de foto do facebook, vestido com um terno alinhado e discreto. Ao lado um sujeito gordo, baixinho com cara de zangado em uma expressão que demonstra ódio ou inveja do magrelo bonito ao lado. Seu terno é ridículo. E a chamada em vermelho e caixa alta: “DO ALTO TUDO É MELHOR”.
Como não poderia deixar de ser, justificando a chamada idiota, uma ciência igualmente idiota para justificar: “A evolução tecnofísica explica porque as pessoas mais altas são mais saudáveis e tendem a ser mais bem sucedidas”
Há um tempo fiz promessa de que nunca mais compraria a revista Veja e mantive essa promessa. Vou me limitar apenas à capa desta revista.
Primeira coisa que penso é por que escolhe-se esse tipo de capa (assunto) de revista em um país onde muitas coisas importantes estão acontecendo. Primeiro motivo: estamos cada vez mais tarados pelo nosso próprio corpo e pela nossa saúde. O narcisismo (conflituoso e exagerado) é um aspecto essencial de uma espécie de neurose moderna em que as pessoas – fascinadas pelo avanço técnico cientifico em torno dos cosméticos, drogas e alimentos – acreditam que podem controlar obsessivamente os rumos de seu metabolismo a ponto de cessar o envelhecimento e serem eternos adolescentes. Isso vai se refletir no número enorme de cirurgias plásticas com fins estéticos, uma indústria farmacêutica e de cosméticos aquecida e pessoas de 40 anos com conflitos das de 15. Os editores e diretores da Revista Veja sabem disso. Sabem que colocar assuntos relacionados a “saúde”, “corpo” e “bem estar” vendem muito bem. Fomos nos tornando incapazes de amar, porque amar pressupõe certo trabalho no sentido de contermos nossa angústia frente à uma outra pessoa essencialmente desconhecida e imprevisível. Posta essa dificuldade, amamos o nosso próprio “eu”, que se mostra para nós como um objeto reconhecível, previsível e que “nunca vai me abandonar”.
Amar o outro dá muito trabalho então amo o meu próprio corpo... Amo no máximo meu cachorrinho (que afinal de contas me obedece e não reclama). Nessa tara pelo próprio corpo uma indústria é montada valendo-se de ditames claros com os elementos: Não envelheça! Seja jovem! Seja feliz! E isso tudo produz cada vez mais mal estar porque o que se vende é um produto que não faz efeito e uma ideia impossível de se alcançar.
A Revista Veja sabe provocar, isso é bom e tenho que admitir mas... Não leio, não li e não gosto.