Nazismo à moda da casa

Nazismo à moda da casa

Em um vídeo sinistro publicado em 17/01/2020, o secretário especial da cultura do governo Bolsonaro, Roberto Alvim, cita Goebbels ao som de uma ópera de Wagner.

Detalhes medonhos

1. Wagner: compositor alemão adorado por Adolf Hitler

2. Joseph Goebbels: ideólogo e Ministro da propaganda Nazista.

3. O enquadre do vídeo, a estética audiovisual, lembram muito os vídeos do próprio Goebbels na Alemanha Nazista.

Lembro me agora de outro detalhe medonho, a famosa frase de Goebbels : “Uma mentira dita cem vezes se torna verdade”.

Nessa frase, Goebbels, profetiza a função e objetivo das fake news, que nos preocupam tanto atualmente.

O fato é que Goebbels era um dos nazistas mais fanáticos. Após o suicídio de Hitler e a derrota Alemã na Segunda Guerra, assassinou seus seis filhos e se suicidou junto com sua esposa, Magda Quandt.

Muito bem. Em algumas horas a sociedade brasileira se manifestou por redes sociais e o Secretário caiu.

É bom saber que polêmicas geradas no seio do Governo foram muito comuns neste primeiro ano. A lógica parece ser a seguinte

1. Cria-se uma polêmica em torno de alguma pauta defendida pela esquerda (direitos humanos, LGBT, aborto, anti-fascismo, etc.);

2. Há resposta e mobilização imediata nas redes sociais;

3. O assunto toma todos os meios de comunicação;

4. Bolsonaro mostra-se de prontidão e rapidamente decide a questão e encaminha o debate (geralmente para um abismo de irracionalidades, é verdade).

Esse esquema tem se repetido em algumas situações, o que nos leva a pensar que pode ser de caso pensado, ou seja, não é um simples esquema e sim um modus operandi, com métodos e objetivos bem definidos.

Quanto ao método, há a utilização das redes sociais que possuem um potencial viral considerável. Em minutos, memes, textos, fotos e vídeos tomam conta de todos os meios de comunicação. Autoridades se pronunciam e os “trending topics” (no português, “assuntos em tendência”, uma espécie de ranking dos assuntos mais comentados) disparam e orientam as pautas de praticamente todos os meios de comunicação. Um outro método, é a chamada “cortina de fumaça”, que explicarei mais adiante.

O objetivo geral deste modus operandi é de aumentar o capital político de Bolsonaro.

Vejamos.

No caso da demissão do Secretário Especial da Cultura, a polêmica toda se desdobrou alucinadamente em uma batalha entre dois grupos de pessoas: as que simplesmente repudiavam o nazismo contra aquelas que apontavam que o comunismo é igual ou mesmo pior que o nazismo e que, portanto, devia ser posto na ilegalidade.

O ponto fundamental da questão é que o Ex-secretário da Cultura plagia trechos de um discurso nazista, faz cópia de toda uma estética audiovisual nazista e propõe a pureza das artes brasileiras. Ou seja, defende ideais nazifascistas de pureza cultural, de superioridade de certas manifestações sobre outras e, o mais impactante, assim como nazistas, defende um modelo de ser humano novo e ideal: o mito da família tradicional brasileira – que é heterossexual, cristã e conservadora. E, portanto, a arte deve exaltar estes valores. Agora, segundo o Ex-secretário da Cultura, a arte seria cristã, nacionalista e conservadora (palavras dele).

Portanto, o mais importante deste episódio foi o escancaramento público, e piada internacional, do caráter totalitário do governo. Ideias que já foram enterradas pela história.

O Governo é claro quanto a isso: “podem fazer essa arte esquerdista, não vamos censurar, mas sem o dinheiro público”. Eles estão certos? Depende do ponto de vista. Se você acha que o Governo deve governar para “ditas maiorias”, faz todo sentido financiar apenas certo tipo de arte e não outras.

Mas saiba você que pensar assim, o aproxima perigosamente de elementos de governos Totalitários, como o Nazismo. Um governo totalitário sabe de antemão “o todo”, “o total”. Tem uma visão bem definida de um futuro ideal e idealizado. Sabe exatamente qual tipo de arte apoiar, qual tipo de ser humano idealizar. O resto é resto. Como disse Bolsonaro: “As minorias que se adequem” - ou em português mais claro - As minorias que se fodam!  

Voltando ao ponto fundamental. Toda uma discussão sobre as perigosas inclinações do governo Bolsonaro ao totalitarismo, descambaram em um debate raso nas redes sociais, sobre o que é pior, nazismo ou comunismo?

É bom lembrar que nosso principal parceiro comercial é a China Comunista. É bom lembrar que Nazismo pode ser comparado mais diretamente ao Stalinismo e não ao Comunismo de maneira geral. Há diferenças muito grandes entre o Comunismo (na verdade Socialismo) praticado por Stalin na União Soviética e o Comunismo praticado hoje na China. Há uma grande confusão de termos!

O fato é que o Nazismo foi enterrado pela história, mas o Comunismo não. Por que? Por capricho dos historiadores? Não.

Cito alguns motivos, e para mim já bastam:

Enquanto massacres Stalinistas direcionavam-se aos inimigos de outros países (estima-se que em termos numéricos foi até maior que da Alemanha Nazista), a política de extermínio nazista de minorias dirigia-se ao mundo todo, inclusive ao seu próprio povo e mais especificamente aos Judeus – a eugenia e a ideia de superioridade Ariana era Política de Estado (repito: Política de Estado!).

E mais, na segunda guerra mundial, os Comunistas Russos tiveram papel importante na derrubada do Nazismo. Pronto! Já é o bastante para compreendermos que há diferenças importantes e factuais entre o Nazismo e o Comunismo.

Ambos não são democráticos e, em teoria, podem se parecer muito, mas, um deles, o Nazismo, quando posto em prática - produziu o que a humanidade fez de pior. Foi repudiado e proibido no mundo todo. Não se proíbe o Comunismo/Socialismo porque eles ainda funcionam, suas teorias foram modificadas e criticadas enquanto o Nazismo não permite críticas pois, suas "bases teóricas" foram, na verdade, resultado de uma série de delírios psicóticos de Hitler.

Voltando ao ponto. Aí é que percebemos a tal “cortina de fumaça”, que foi lançada por Twitter pelo próprio presidente Bolsonaro, e que obnubilou os caminhos do debate, praticamente dissolvendo a questão principal, incentivando uma guerra ideológica das mais bobas.

Assim, Bolsonaro, sua equipe e seus seguidores trabalham e conseguem aumentar significativamente o capital político do Governo. Bolsonaro vai se cristalizando como um Chefe de Estado poderoso, que “resolve”, que trabalha e que encaminha o debate público para onde quiser; mesmo que para o abismo, mesmo que utilize métodos muito infantis para tal.

 

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