Novo Sertanejo, Viagra e a os rumos do amor moderno
“Eu sofri muito por amor agora eu vou curtir a vida” diz a música sertaneja tocando no radio. Dei uma volta pelo luxuoso condomínio onde passei o ano novo e me dava um tristeza em ouvir o que estava tocando em cada mansão... “Ora, Luis Fernando, você queria que estivesse tocando Beethoven?” diz meu amigo.
O Sertanejo se reinventou. Eu não gosto e não falo mal porque é musica de adolescente. Mas todos sabemos que isso não é verdade. Adultos gostam e se identificam com esse som e com as letras. Antigamente o sertanejo tratava da temática do amor. Era o amor pela mulher, a dor da perda, dor de cotovelo e quase só isso. Com a renovação do sertanejo, as músicas flertam com o pop rock, usam instrumentos eletrônicos e os shows são super produzidos. As musicas falam de cerveja, mulher solteira, cerveja, mulher bonita, cerveja, sexo, cerveja, final fácil de um relacionamento e cerveja (beber, beber e beber.. só não fume ,ok?). Não há muito espaço para tristeza do luto ou a melancolia da saudade, tipo “fio de cabelo ne meu palitó”.
Os caras são espertos. Como CD não dá muito mais dinheiro e o MP3 acabou com o lucro das gravadoras e artistas, eles deixaram de gastar com produção musical em estúdio e passaram a investir em grandes shows e gravação de DVDs e CDs ao mesmo tempo, ao vivo. E os shows mostram belas mulheres na primeira fila cantando decor as musicas e dançando sensualmente, seus gritos e cantos criam a demanda masculina que equipa seus carros com sons potentes para atrair atenção das “fêmeas sertanejas”. O sertanejo lubrifica uma roda lucrativa enorme, e por isso seu sucesso é maior ainda (como qualquer produto bem posicionado para consumo em massa). Vitor, da dupla Vitor e Leo, declarou recentemente que o momento da música sertaneja no Brasil é o pior. O cantor afirma que o estilo musical está em alta, mas a qualidade das músicas produzidas está no chão: “Pelo que nós sabemos, o conteúdo poético é presente na história da música sertaneja, e hoje ele está praticamente morto”, dispara. Vitor que o mercado está apenas atrás de sucessos fáceis, sem se importar com as letras das canções. O cantor acredita que só o tempo poderá mostrar quem são os verdadeiros cantores. O cantor Jorge, da dupla Jorge e Mateus, concorda com o colega e diz que o mercado sertanejo é “podre” (https://www.bahianoticias.com.br)
Olha essa pérola!!
E esse então?
Mas não quero falar disso, quero falar do que diz o sertanejo. Do que diz essa expressão do nosso tempo. Ao meu ver, um retrato fiel do homem, entre 40 e 50 anos que “sofreu muito por amor e agora quer curtir a vida”, como fala a musica.
Esse cara (entre 40 e 50 anos), não é aquele cara da musica de Roberto Carlos (“Esse cara sou eu”, apaixonado, melancólico, romântico, Byroniano) e sim um sujeito que trabalha duro na semana, acha que merece descansar no final de semana e tomar uma cerveja. Ainda possui ideais românticos de encontrar uma “mulher para casar”, mas é impotente; muito embora tome Viagra e faça muito sucesso em várias noites avulsas, com várias mulheres avulsas e é presença constantes dos puteiros de luxo ou bocadas sujas. E você sabia que travestis, na maioria esmagadora das vezes, atendem homens casados cinquentões? Deixa pra lá, voltando. Esse cara sofreu por amor, já se divorciou, tem filhos e morre de medo deles. E morre de medo de mulher.
Esse cara é temido pelas mulheres porque ao mesmo tempo que deseja casar novamente, tem verdadeiro horror a ter que conviver com uma mulher. A ex- mulher é um fantasma assombrador, os filhos são eternos cobradores de um dívida que ambos desconhecem. Aí sim, em um movimento regressivo, o psiquismo desse cara volta a funcionar como o de um garoto de 16, 18 anos, inclusive esse cara volta a usar roupas que não condizem com as estabelecidas socialmente para sua idade. O ideal agora é o “carpe diem”, que, renovado e com roupagem pós-moderna, segue assim: “Eu quero mais é beijar na boca e ser feliz daqui para frente”
Esse cara é impotente sexual, mas é uma maquina de fazer sexo graças a medicina moderna que passou desenfreadamente a tentar dar respostas superficiais aos desejos humanos.
É pura tragédia e comédia ao mesmo tempo. A impossibilidade de amar e gozar plenamente... e o medo de morrer sozinho.