O Amor é necessariamente bom?

O Amor é necessariamente bom?

“Depois de te perder/Te encontro com certeza/Talvez num tempo da delicadeza/Onde não diremos nada, nada aconteceu/Apenas seguirei como encantado ao lado teu” (Chico Buarque de Holanda, Todo Sentimento)

Não sei se isso já foi feito, mas se fizermos um levantamento de obras artísticas (musicas, pinturas, poemas, romances etc.) tenho quase certeza de que estas versariam sobre o amor em suas diversas nuances. Escute o radio ou veja a televisão: o amor esta sempre no ar. Ora doentio, ora infinito, mas sempre como uma relação doída e irremediável, um sentimento controverso.

Não muito longe no tempo (2008) temos o drama de Eloá Pimentel, 15, seqüestrada durante cem horas e morta pelo ex-namorado, Lindemberg Fernandes Alves, 22, em Santo André, São Paulo. Lindemberg foi “poupado” em diversas ocasiões em que a policia tinha chances reais matá-lo, sob a justificativa de que o jovem estava perturbado pelo término de um namoro e tinha toda a vida pela frente, etc. Agora em 2012 o julgamento finalmente acontece.

A situação em que Lindemberg se encontrava, de ódio, confusão mental e uma mistura de situações mal resolvidas poderiam sim dar um desfecho trágico a esta história, mas a polícia não pensou assim e não levou a sério a hipótese de que o rapaz poderia fazer o que fez. Temos exemplos variados de como o amor pode perturbar e desorientar o sujeito, na literatura, na psicologia e nas diversas mídias.

Sabe-se que o sujeito quando ama, ama uma imagem, um objeto criado internamente, como se fosse uma alucinação. O amor não se dá com a relação entre duas pessoas, mas entre uma pessoa e a imagem que esta tem da outra amada. Por exemplo, pense agora em seu namorado ou namorada. Você escolheu esta imagem como um reservatório de tudo que você considera importante. Adicionou expectativas e idealizações, de modo que se frustra quando ele(a) não corresponde a imagem que você formou.

Lindemberg estava assim: Sua namorada o rejeitou, mas a imagem perfeita dela ainda estava viva e pulsante dentro dele, de modo que Lindemberg, num ataque de fúria, resolveu colocar as coisas no lugar; ou seja, adequar a realidade externa à interna. Transformar sua ex-namorada em namorada de novo, mesmo que isso custasse a morte de todos. Lindemberg era um sujeito tomado pela decisão de ser amado a qualquer preço, “talvez num tempo da delicadeza”, em que seria amado pela menina Eloá novamente.

O sujeito que ama é um alucinado, isso é fato. Pois a relação sua com a realidade está perturbada por idéias mais ou menos fixas, de maior ou menor poder. Normalmente temos uma relação satisfatória com esta imagem interna do objeto amoroso. Mas em casos extremos, a relação com esta imagem se faz sombria e violenta.

Neste sentido, a polícia deveria ter agido com mais cautela, pois o rapaz tinha motivos fortes (não digo reais ou moralmente aceitos), não era apenas um mercenário em busca de dinheiro. Ele queria algo muito mais forte e mais valioso que dinheiro. Ele queria amar e ser amado. A polícia subestimou isso.

 

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