O fim da propaganda política

O fim da propaganda política

Esses últimos dias têm sido muito ricos para quem deseja aprender sobre política. Para quem deseja destilar qualquer tipo de ódio ou amor baseado em convicções não há nada de novo: Lula continua bandido e Dilma precisa sair do governo; Moro é um herói, Lula é o salvador do Brasil e etc. Vamos deixar de lado essas convicções.

Quais são os dados que temos? Algo que podemos afirmar com toda certeza é que dinheiro e poder andam lado a lado e que esta dobradinha motiva boa parte do comportamento corrupto, desta forma, temos a sentença: “quero mais poder, portanto, devo conseguir mais dinheiro”. Na busca pelo poder, faz se alianças com quem detém poder econômico.

Para tentar desvencilhar essa rede psicológica do poder/dinheiro o Supremo Tribunal Federal, em 2015 decidiu declarar inconstitucionais normas que permitem a empresas doar para campanhas eleitorais.  A câmara de Eduardo Cunha votou a favor do financiamento e Dilma vetou.

É sabido que grandes empresas doam quantias enormes de dinheiro para partidos políticos. Essas quantias servem como cotas de poder. As empreiteiras e construtoras são as que mais doam e, portanto, indiretamente e legalmente, assumem boa parte do poder político do país. 

Mas tenho uma simples pergunta: para que serve uma campanha eleitoral?

 

Propaganda política: para que?

As campanhas eleitorais não servem exatamente para informar e formar o eleitor sobre a importância do voto, da cidadania, da politica ou do projeto de governo que se pretende implementar. Elas servem sim para vender um produto nos termos da propaganda e marketing.

O que ocorre na prática é que os políticos contratam agências de marketing e propaganda para criar campanhas comerciais. Algo idêntico ocorre se você resolver abrir uma loja de doces e desejar vender muito: você contrata uma agência de propaganda que vai bolar um meio de colocar seu produto na casa do consumidor, sem que ele saiba muito bem do “porque” da compra pois muitas vezes as demandas são criadas. Na política você vê a propaganda, sente que realmente está fazendo a coisa certa e vota. Ou seja, é persuadido e compra uma ideia assim como compra um sabonete, um doce ou outro bem de consumo. Portanto, se formos atribuir valor em nosso voto, ele vale bem pouco, pois todos sabemos da péssima qualidade dos produtos/candidatos que se tem por aí.

Em 1967, Guy Debord lança um livro em formato de manifesto em que trata da preponderância das imagens e de outras formas de representação na sociedade contemporânea, alcunhada por ele como sociedade do espetáculo. Debord discute essa dominância e a considera como uma das causas para o possível distanciamento entre os homens, agora mediados por imagens, e as realidades que o cercam. Alerta-nos para um possível esvaziamento nas relações, marcadas pela superficialidade inerente à sociedade do espetáculo. Sintetiza esse pensamento no trecho: “tudo o que era diretamente vivido se esvai na fumaça da representação” (Bezzerra, 2006).

A proibição do financiamento de campanha é importante e ataca o problema da formação de duplas de poder (politico-empresário), mas de maneira alguma vai desvencilhar a busca dos partidos por dinheiro/poder. Esse dinheiro vai entrar de alguma forma segundo o jeitinho brasileir (caixa 2?). Portanto, penso que há que se garantir também vias mais satisfatórias de saída desse dinheiro. Vias para que o dinheiro seja aplicado em algo realmente útil e não na confecção de santinhos de papel e show-mícios e programas de TV semelhantes a novela mexicana.

A idéia que defendo aqui é uma lei que proíba toda e qualquer propaganda política como conhecemos.

 

Então como seria essa nova propaganda?

Vamos imaginar então que essa lei estivesse em vigor e seria proibida a impressão de folhetos (santinhos), carros de som, outdoors, faixas, e qualquer tipo de propaganda na TV. Em termos mais gerais, seria proibida qualquer propaganda eleitoral que não incentivasse a formação, informação, interatividade e debate ao longo do tempo. Caso as velhas propagandas não fossem mais permitidas, o dinheiro gasto seria encaminhado para outras formas de divulgação e atividades.

Os partidos. Além de congregar interessados na política, deveriam adquirir a função formativa e educacional, promovendo cursos, palestras e outros tipos de ações junto às comunidades. 

Penso que assim colocaremos um desafio bastante importante na vida dos políticos e partidos que passariam a pensar em modos inteligentes de ganhar simpatizantes e votos. Passariam portanto de organizações captadoras de recursos para organizações promotoras da cidadania e politica.

Assim como a educação, a política necessita urgentemente rever seus paradigmas, pois é - ou deveria ser - bastante diversa de qualquer atividade de consumo, em que escolhemos o produto pela cara, pelo cheiro...

A propaganda política é tão nociva quanto a propaganda de cigarro ou bebidas. Cria uma demanda vazia de sentido, espalha realidades impossíveis. Custa caro e não vale nada.

 

Referência Bibliográfica

Bezerra, G. M. P. (2006) Mídia e Política: uma reflexão sobre as possibilidades contra-hegemônicas. UNIrevista, vol. 1, n° 3.

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