O ponto da Virada

O ponto da Virada

A Virada Cultural em São Paulo fez jus ao nome: muita música, arte, drogas e violência.

Senti um clima muito bom ao passear pelas ruas lotadas com crianças, idosos, adultos, shows e intervenções artísticas acontecendo em cada esquina. Muitos banheiros e muitos cestos de lixo deixavam praticamente impossível você pensar em fazer xixi na rua ou jogar qualquer papel no chão. Me senti como numa grande festa ao ar livre, com vários ambientes. Muitos policias na rua, e quando precisei de alguma informação, não sei se tive sorte, eles sempre foram solícitos e educados. Minha impressão com a Virada Cultura 2013 foi das melhores possíveis (sorte minha?).    

Mas como todos sabem, e não deveriam se espantar com isso, a madrugada chega e o ser humano mostra sua predileção para com o crime, confusão e violência. A cultura humana tem diversos lados e a cultura da violência e do crime estão cada vez mais pulsantes na nossa sociedade - basta estar vivo e perceber como isso é espetacularizado e incentivado em todas as mídias. 

Depois das 00h percebi o ponto de virada. Como se Dr. Jekyll se transformasse em Mr Hyde. Havia cheiro de urina e fezes no ar e, junto disso, o sentimento de que depois dessa hora nada de bom iria acontecer (Gal Costa já saia do palco e nos direcionávamos para o show de Sidney Magal). Os banheiros (banheiros químicos) estavam impossíveis de usar, com filas que se estendiam por muitos metros pelas ruas que já serviam de palco para as pessoas que não aguentavam e tinha que fazer suas necessidades ali mesmo (inclusive eu, confesso, apesar da minha boa vontade em aguardar na fila). As pessoas já começavam a cabalear pelas ruas, caindo, falando sozinhas. Já não se via mais crianças e idosos. Eu sentia que tudo aquilo estava prestes a explodir. Percebi que era hora de ir pra casa.

Interessante notar como um evento desses escancara aos nossos olhos os defeitos da cidade e das pessoas. Primeiro, que pessoas mal educadas serão mal educadas com ou sem policiamento, afirmando o que já conhecemos de que a repressão só faz incentivar o comportamento. Segundo, que a estrutura das cidades não é feita e pensada para as pessoas e sim para carros; basta observar o tamanho e largura das ruas e a diferença entre o número de banheiros públicos e postos de gasolina. A cidade não foi feita para seres humanos viverem e sim para carros passarem. Assim reforça-se a ideia de que o que é público é de ninguém, o público não me pertence, e de que precisamos apenas cuidar da nossa própria casa e do nosso umbigo.

Enfim, em poucas horas senti uma São Paulo vibrante, humana, violenta e caótica. Senti uma São Paulo despreparada para as pessoas e desesperada em por ordem por meio de policiamento numeroso e banheiros químicos provisórios. Reflexo de um país que acredita em medidas momentâneas e não nas permanentes. É o país para inglês ver, que já conhecemos.

Chegando em casa, ouvia sons de sirene e os barulhos da cidade. Ao tomar um café com leite sentado no sofá, sentia a certeza de que eu estava no lugar certo.

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