Os carinhas de 40 e poucos anos

Luís Fernando Scozzafave de Souza-Pinto

06 Dez 2018 09:47

Um advogado de 39 anos gravou um vídeo confrontando o ministro Lewandowski e diz: "Ministro, o STF é uma vergonha"

Tenho a mesma idade que esse advogado e a vergonha que sinto é outra.

Faço parte de uma geração de pessoas que nasceram no final da ditadura militar. Tivemos uma educação bastante contaminada por preceitos antidemocráticos em que autoridade se confundia com brutalidade e que o medo era sinônimo de respeito. Em minha classe social, tivemos pais que nos deram o suficiente em termos materiais e pouco apoio psicológico e afetivo. Isso nos criou.

Minha geração não é "nativa digital", tivemos nosso primeiro e-mail na segunda metade dos anos 1990, tendo passado boa parte da infância e adolescência sem influências digitais mais profundas (um Atari aqui, um Nintendo acolá).

Hoje, homens de quase 40 anos mostram-se verdadeiros babacas. Muitos deles já são "pais de família", e repetem exatamente os preceitos que foram obrigados a aprender quando crianças. Praticamente são filhinhos da mamãe até hoje e não romperam com aqueles paradigmas antidemocráticos e retrógrados nos quais foram criados.

Acham-se super pais (em contraponto ao pai de merda que julgaram ter) e, sobretudo, desejam ser pais (sentem isso como um desejo cópia ao desejo das mulheres de serem mães). O "Carinha de 40", tem "desejo de ser pai" não porque deseja, mas por ódio e inveja do que a mulher se tornou nas últimas décadas no Brasil: livre e independente deles.

Não sabem lidar com o conceito de autoridade, primeiro porque não possuem nenhuma (nem com os próprios filhos) segundo, porque desejam inconscientemente destruí-lo por inveja ("se eu não tenho, nego e tento destruir").

Nós, os carinha de 40 e poucos, não criamos defesas psicológicas suficientes para nos proteger das redes sociais. Não sabemos lidar com o espaço público que se abriu na internet e não sabemos lidar com a rapidez com que tudo muda.

O ministro, então, respondeu: "Vem cá, você quer ser preso?". Em seguida, apontando para um comissário de bordo, completou: "Chamem a Polícia Federal, por favor".

Depois esse advogado gravou outro video, em pleno voo, dando um discurso completamente incoerente sobre liberdade de expressão e respeito, e - como não poderia deixar de ser - deixou explícito seu posicionamento politico ideológico (vejam o video e tirem suas conclusões).

Nós, os carinhas de 40, vamos voltar a morar com a mamãe com medo do mundo ali fora. E assim, com um smartphone, expressar nossa rebeldia pelo “insta” ou pelo “face”.