Pais preparados, filhos...
Não sei continuar essa frase do título. E quem diz que sabe está mentindo. Mas sei qual o significado de associarmos assim tão inequivocamente uma causa e uma consequência na criação de um filho. O que acontece é o seguinte: está na moda uma certa psicologia que visa corrigir os seres humanos e propor métodos de atuação na vida que garantam felicidade e bem estar. Assim temos livros de autoajuda como: “Pais preparados, filhos vencedores”; “Pais ansiosos, filhos inseguros”; “Como ser um vencedor” e por aí vai. Essas publicações refletem a profunda insegurança que a modernidade, paradoxalmente, nos trouxe. Ao mesmo tempo em que estamos seguros em casa vendo novela, com o armário cheio de remédios e a geladeira cheia de comida, ainda sentimos que não é o bastante. Haverá sempre com o que se preocupar. Haverá sempre um “expert” que nos indicará o caminho mais fácil e seguro para a felicidade plena e para a performance total de se viver. O fato é que essa psicologia que oferece dicas não dá certo como gostaríamos.
A vida melhorou muito de cem anos para cá e isso nos fez crer que ela pode melhorar cada vez mais até atingirmos uma espécie de paraíso na terra, onde não temos mais insônia, não temos problemas de relacionamento com familiares e amigos, onde somos completos vencedores.
Há algum problema em ter uma vida próspera, feliz e etc.? Não.
O problema acontece quando incentiva-se incessantemente o desejo de se obter essa meta mesmo que para isso tenhamos que nos drogar, nos cortar em cirurgias ou gastar todo nosso dinheiro em sapatos e roupas. E o problema passa a ser mais grave quando submetemos crianças à esse tipo de pensamento perverso.
Vale tudo! Lotar a agenda do seu filho com atividades das mais diversas: academia, futebol, ballet, aula de línguas, aula de música aula de finanças pessoais. Afinal, são atividades indicadas pelos experts no assunto. Os experts dizem que faz bem para a criança. E deve fazer. Os adultos pensam com cabeça de adulto o que uma criança deveria gostar (lembra da frase – “Meu filho, vou lhe dar tudo que eu não pude ter quando criança”). Mas o efeito de uma agenda lotada na criança, geralmente, encobre uma situação de ausência dos pais.
O que é de fato importante para uma criança? A atividade de consumo? As atividades intelectuais e esportivas?
Penso que frente à tantas opções de felicidade, você deve comprar todas mesmo. Para que sinta no final que nada disso foi tão importante assim como lhe disseram na revista semanal.
Quanto às crianças finalizo com Pink Floyd: “Hey! Teacher! Leave them kids alone!” (Another Brick In The Wall, Pt. 2, Pink Floyd)