Playboys maconheiros?

Playboys maconheiros?

Meus caros revolucionários, a polícia não está nem aí para o que você pensa ou deixa de pensar!

A frase do título deste artigo pipocou nas redes sociais nessas semanas referindo-se aos estudantes da USP que invadiram a reitoria. Antes de qualquer coisa os tais “playboys maconheiros” eram cerca de 50 pessoas, mas a comunidade acadêmica da USP consta com cerca de 82 mil alunos (50 mil só na Cidade Universitária) que produzem conhecimento valiosíssimo que normalmente é considerado no mundo moderno como a grande moeda do desenvolvimento. Poratanto. Não caia no erro banal de generalizar com base numa notícia veiculada por uma mídia duvidosa.

O episódio da invasão parece que foi engatilhado pela detenção de um estudante que fumava maconha no campus. Afinal de contas, quem pôde viver em ambiente acadêmico público, sabe que pode-se fazer de tudo no campus desde fumar maconha até pensar livremente.

O problema é que o pensamento livre dos ambientes acadêmicos não tem sido lá tão valorizado e expresso. A imagem pública e midiática que fica dos “Uspianos” é que são maconheiros vagabundos sustentados pelos pais e pelo contribuinte. Qual problema de se pensar livremente e cumprimentar o policial na saída do seu laboratório ou sala de aula? Dizem que segurança não é igual à presença da PM. Segurança obviamente é algo muito amplo, mas é tratada emergencialmente de forma simples: coloque a polícia no local. Não vamos confundir o processo de discussão com as medidas emergenciais de resolução.  Se o teto de sua casa cai sob sua cabeça, você inicialmente toma medidas drásticas e depois pensa em hipóteses e teorias sobre o desabamento dos tetos. 

Parece-me que paira uma ideia saudosista da ditadura militar de que a polícia vai lhe impedir de pensar livremente, que vai lhe roubar seus livros e vai lhe torturar numa sala escura e fétida. Meus caros revolucionários, a polícia não está nem aí para o que você pensa ou deixa de pensar!

Concordando ou não, a imagem do “estudante-uspiano-pseudo-revolucionário” é um fato divulgado amplamente. Acho que os manifestantes e o pessoal dos movimentos estudantis precisavam - além de estudarem obras do comunismo e anarquismo - cuidar da divulgação de sua imagem numa sociedade mediada pela propaganda e pelo jornalismo de 140 caracteres. Mas não. Alguns idiotas do movimento foram brigar também com jornalistas. É obvio que o tiro no pé foi dado pelos próprios invasores e a mídia caiu em cima.

Outra questão importante que isso nos traz é a separação entre universidade e o resto da sociedade. E o elemento que chamo atenção é que as pessoas que usufruem de 4 à 6 anos de uma universidade pública não devolvem absolutamente nada para a comunidade; pelo contrário, vejo físicos graduados trabalhando no Banco do Brasil. Nada contra. Mas 5 anos de formação específica em física poderiam (ou deveriam) ser melhor aproveitados.

Sou totalmente a favor de lutas, brigas e batalhas por uma discussão democrática da segurança. Mas vamos falar sério: fazer esse tipo de manifestação obsoleta, com pichações depredações e dizeres anarquistas e comunistas já basta! Ninguém vai dar ouvidos e o que se consegue é essa imagem borrada de um juventude acadêmica sem o mínimo senso de inovação... Merecem o status de mimado... e burros.

Fica aqui minha indignação também ao governo do estado de São Paulo: democrático como nunca e os canais de mídia, como a Revista Veja que definitivamente não inovam e afundam num marasmo de parcialidade e superficialidade de análise.

Agora, alguns links de outros textos e videos na net sobre o assunto

Marilena Chauí, espetacular como sempre.

 

Entrevista com o professor Luiz Renato Martins, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (Rádio Bandeirantes)

O que o sensacionalismo não explica por Alex Monteiro (aluno da Faculdade de Direito da USP)

Ocupação patética, reação tenebrosa por Matheus Pichionelli (Carta Capital)

Nota de Repúdio a revista Veja pela Liga Humanista Secular do Brasil

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