Psicossomática(4): o câncer

Psicossomática(4): o câncer

No século XIX, como nos séculos antecedentes, o diagnóstico de câncer era visto como um equivalente à própria morte. Não havia causa ou cura e, revelar o diagnóstico para o paciente era considerado um ato cruel e desumano. Já no século XX a cirurgia do câncer foi progressivamente melhorada e procedimentos anestésicos foram desenvolvidos, sendo possível curar o câncer se houvesse um diagnóstico precoce e logo após sua retirada imediata antes que se espalhasse (Holland, 2002).

Em 1913 a Sociedade Americana do Câncer promoveu programas educacionais que objetivavam encorajar as pessoas em um diagnóstico precoce da doença (American Cancer Society, 1980). Radioterapia passa a ser um método para o tratamento, sendo oferecida como cuidado paliativo, mesmo após um insucesso na cirurgia sendo muito temida pelos pacientes (Aaronson, 1991; Shimkin, 1977). Na década de 50 a introdução da quimioterapia alterou beneficamente o prognóstico para muitos tipos de câncer e reduziu o pessimismo acerca da doença, sendo registrado o primeiro caso de cura por quimioterapia (Holland, 2002). Apesar dos avanços, Okeni (1961) mostra que mais de 90% dos médicos ainda não revelavam o diagnóstico para os pacientes com câncer.

Desde os tempos mais remotos encontramos relatos como o de Galeno, proeminente médico e filósofo romano de origem grega, referindo que o câncer é mais comum em mulheres melancólicas que nas sanguíneas (Souza et al., 1995). Nos anos 60, uma série de investigações psicológicas defendia teorias de uma etiologia psicogênica para o câncer. LeShan e colegas (1966) concluem que aspectos psicológicos como uma perda significativa não resolvida, inabilidade de expressar frustração e raiva e laços fracos de relacionamentos são características comuns em pacientes com câncer. Schmale e colegas (1964) associaram padrões de separação e perda, depressão e sentido de esperança e desesperança com o desenvolvimento do câncer. Kissen (1966) observou que, em pacientes com câncer de pulmão, havia uma capacidade diminuída de descarga afetiva apropriada. Bahnson et al. (1966) propõe um modelo teórico para a etiologia psicogênica do câncer chamado de “complementaridade psicofisiológica”, mostrando que conflitos emocionais reprimidos associados à perda facilitariam o desenvolvimento de neoplasias.

Era inaugurada a psico-oncologia, com inicio formal em meados dos anos 70 quando o estigma em torno da palavra “câncer” (que a tornava “uma palavra para não ser dita”) diminuiu até o ponto em que o diagnóstico passou a ser mais facilmente revelado e os sentimentos dos pacientes passaram a ser explorados (Holland, 2002). Em 1971, a Divisão de Controle de Câncer e reabilitação do Instituto Nacional do Câncer foi formada para fomentar a pesquisa psicológica e comportamental em pacientes com câncer; e em 1975 a primeira conferência sobre os aspectos psicossociais do câncer foi realizada nos Estados Unidos (Cullen et al. 1977). Até semana que vem!

OBS: Para obter referências bibliográficas completas entre em contato.

 

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