“Saúde é o que interessa! O resto não tem pressa”
Quem não se lembra de Paulo Cintura, um sujeito forte, alegre e que talvez seja o primeiro ícone da geração saúde brasileira? Para alguns fazer parte da tal geração saúde é uma honra para outros isso é realmente péssimo.
Criou-se dois grupos: Um grupo daqueles que frequentam academia, se alimentam corretamente e se preocupam com seu reflexo no espelho e, outro grupo, daqueles que não cultivam bons hábitos, fumam, bebem e percebem a geração saúde como pobres coitados, vítimas de alguma conspiração de mercado estadunidense. Coisa do capeta!
Interessante. A revista médica britânica Lancet publicou uma série de estudos que escancara os problemas do sedentarismo, responsável por 5,3 milhões de mortes por ano no mundo. Segundo os pesquisadores, a falta de atividade física pode ser considerada uma pandemia e é tão grave que diminui a expectativa de vida da mesma forma que o tabagismo e a obesidade. Está no sedentarismo a causa para 10% das doenças não transmissíveis, como diabetes, câncer e problemas cardíacos. Um dos estudos da série, coordenado por Pedro Hallal, da Universidade de Pelotas, aponta que cerca de 30% da população mundial adulta é fisicamente inativa, mas o quadro para os adolescentes é mais preocupante: 80% dos jovens entre 13 e 15 anos não se exercitam o suficiente. No Brasil, 49% da população adulta não pratica atividades físicas, e o estilo de vida sedentário é responsável por 13% das mortes por infarto, diabetes e câncer de mama e do intestino. (Folha de SP, 19/7/2012)
Sem dúvida no Brasil - embora as estatística indiquem o contrário - Paulo Cintura ganhou. É inegável que os sedentários, obesos ou fumantes estão por fora. Ser gordo ou fumante está fora de moda. O problema que isso é quase um pecado. Cazuza disse certa vez: “Meus heróis morreram de overdose”. Quer dizer, as artes estão repletas de gente fora de moda, que usa drogas, que morre por elas. “Esse pessoal intelectual gosta de usar drogas”, disse me um dia o guardador de carros da minha rua. E morrer por algo passou de virtude à doença mental.
Imagine se o Jimi Hendrix ou Beethoven tivesse em seu cronograma academia 5 vezes por semana? Será que seriam gênios da música? Não iriam gastar suas energias puxando ferro em vez de expressarem algo na partitura musical?
Uma coisa é fato: Muitos adoram ir na academia para descarregar algo. Para “desestressar”, para liberar certas cargas de energia que se acumulam ao longo dos dias. Creio que essa mesma carga – que te faz fazer 100 repetições de levantamento de peso na academia – é a mesma responsável pelas obras artísticas geniais. O artista ou intelectual, sabendo disso, acaba conservando suas energias, mantendo seu sedentarismo, para poder trabalhar. Será que isso é verdade? Pode não ser. Mas é hilário imaginar José Saramago dizendo, em meio à uma forte inspiração: “Agora, preciso ir fazer pilates, não, não posso escrever agora”
O fato é que agora foi decretado: Sedentarismo é coisa ruim. Mata tanto quanto o cigarro. E isso é ótimo.
São muitos os vilões que a ciência elege (gordura, fumo, sal, etc.) como principais inimigos da felicidade humana, mas agora chega-se à uma conclusão mais sensata: o problema não são os produtos em si, as gorduras, os cigarros, a cocaína mas sim uma propensão humana à compulsão. Acho uma mudança importante culpabilizar, ou melhor, responsabilizar o homem e não os objetos nos quais depositamos nossa compulsão. Paulo Cintura venceu! Vou fazer minha matrícula na academia...