Se nada der certo...

Se nada der certo...

Uma festa com o tema "Se nada der certo" dos secundaristas da Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH), no Rio Grande do Sul, repercutiu nas redes sociais. Em uma das típicas comemorações do 3º ano do ensino médio, alunos da escola na região metropolitana de Porto Alegre se fantasiaram de profissões que julgaram ser "alternativas" se nada der certo na vida profissional (Huffpost Brasil).

Foram duas coisas nessa brincadeira.

Primeiro, a postura da direção do instituto depois do ocorrido. A justificativa foi que

“O objetivo principal dessa atividade foi trabalhar o cenário de NÃO APROVAÇÃO NO VESTIBULAR, de forma alguma foi fazer referência ao 'não dar certo na vida’. ”

A questão não é “se nada der certo”. A questão é que já deu tudo errado, quando a nossa suposta elite intelectual não é ensinada a pensar em termos históricos e sociais o seu país, quando dirigentes de escola - inclusive a psicóloga educacional, Patrícia Neumann diz “que houve um erro de interpretação”, “que era brincadeira para relaxar”, tenta em vão falar em valores e projetos sociais da instituição e que os “alunos agora estão sendo atacados e que estão assustados”.

Para a Patrícia, “foi tudo muito no lúdico” (sic) e, apelando para uma generalização das piores, diz que esse tipo de festa é coisa comum em Porto Alegre.

De fato, não haveria muito problema se esse show de horrores (me perdoe a palavra) ficasse restrito aos quatro muros da escola, mas não. A irresponsabilidade da escola foi posta, e inclusive por isso que escrevo aqui (áudio da entrevista no link 2). A irresponsabilidade da escola foi de não assumir que essa brincadeira feriu a dignidade de outras profissões. Ponto final!

Essas palavras da direção dizem apenas uma coisa: um belo e sonoro “foda-se” aqueles que interpretaram uma brincadeira tão inofensiva, “para relaxar”, lúdica, em algo nocivo e preconceituoso.

Na maioria das vezes pedir desculpas é a saída mais fácil, direção!

Uma desculpa possível seria: os nossos alunos são pré-vestibulandos, são ensinados a marcar X e não a pensar em questões relevantes. Outra desculpa: nós, como direção de ensino, estamos mais preocupados com o número de aprovados no vestibular e não em decidir se esta ou aquela questão sociológica é importante ou não. E mais, assumir que quem dá certo no final das contas, vira doutor! Ou médico, ou advogado ou engenheiro, sim!

Simples assim, todo brasileiro pensa dessa forma, não é mesmo? Afinal, os pais pagam mensalidades de cursinho para que? Para o filho estudar Sergio Buarque de Hollanda? Não, né?   

A segunda coisa. Uma brincadeira como essa mostra a incapacidade de o Brasileiro reconhecer o trabalho - qualquer que seja - como atividade digna e honrosa.

Ham? Dignidade? Honra?

No fundo dessa questão há o velho desejo do brasileiro de se dar bem sem fazer nada, sem trabalhar (jeitinho brasileiro). Para o brasileiro, dinheiro bom é aquele que vem aos montes e sem muito esforço. Gente que trabalha duro, suja as mãos é gente indigna, é povão e nem merece ganhar muito mesmo.

Por isso, o recado dessa brincadeira é simples: estude para não virar essa merda de gente.

E mais um recado: quando estiver lá no alto de um cargo público, sendo um governante de alto escalão... Aproveita meu filho!! Pode roubar, pode sacanear, faz caixa 2 e o escabau!! Pois o povo, o trabalhador é merda.

Esses são os recado que se passam com brincadeiras desse tipo, mesmo quando a direção, conivente, apela para o "mas foi sem querer querendo."  

 

 

https://www.huffpostbrasil.com/2017/06/05/estudantes-fazem-festa-com-tema-se-nada-der-certo-e-se-fantasi_a_22126349/

https://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/noticia/2017/06/escola-de-novo-hamburgo-promove-evento-se-nada-der-certo-e-gera-criticas-nas-redes-sociais-9808342.html

 

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