Terapia pode acabar com a sua vida

Terapia pode acabar com a sua vida

O título deste texto é mais uma provocação do que uma afirmação válida.

Mas sim, na minha humilde opinião, uma terapia pode acabar com sua vida. Pode te deixar triste, pobre, dependente, paranoico, agressivo demais, pacifico demais...enfim, pode dar merda!

Mas por que isso?

Porquê terapia não é um tratamento isento de erros e de efeitos indesejados. Alias, efeitos indesejados são, até certo ponto, desejados (pelo menos em alguns tipos de terapia).

Uma terapia tem tudo para dar errado em termos de prognóstico, pois é bem comum na terapia o paciente sair de uma depressão forte (queixa inicial) e entrar em um “loop” de problemas e questões relacionados.

Assim, uma boa terapia se desenvolve porque deu errado de alguma forma.

Acho ok as pessoas falarem que "todos deveriam fazer terapia". Pacientes que experimentam uma melhora de sintomas ficam bem felizes com a terapia... mas isso não é tudo.

Entretanto, me sinto bem desconfortável vendo psicólogos falarem isso e utilizarem isso como propaganda.

Há conflitos graves de interesse nessa frase. Por que, afinal, todos deveriam fazer terapia?

1- Porque a terapia beneficia realmente a todos (não há consenso científico sobre isso)

ou

2- Porque quero ter muitos pacientes para garantir meu salário mensal.

O item 2 é geralmente ocultado. É claro que psicólogos podem e devem fazer propaganda de seus serviços, mas eles são suspeitos demais para falar sobre.

É que achamos muito comum certo tipo de publicidade que cria demandas e oferece a solução. Vejo diariamente no Instagram ou Facebook, psicólogos falando da depressão como mal do século, como uma epidemia, numerando sintomas e, a seguir, um número de telefone. Que esperteza!

Posto isso, como um psicólogo pode divulgar seus serviços? Não sei.

Na minha opinião (repito, opinião), o boca a boca é a forma mais confiável de propaganda exatamente porque retira do processo a parte mais suspeita: o psicólogo. É o paciente, por livre e espontânea vontade, dizendo que a terapia foi de alguma forma útil para ele.

Toda questão é que isso leva tempo, e os recém-formados, munidos de uma carteirinha do CRP, querem ansiosamente trabalhar, viver disso e, é claro, fazer sucesso. E os jovens nunca foram muito bons em esperar... Então, apelam para esse tipo de propaganda e, ocasionalmente, caem em ciladas éticas.

Sempre me lembro de Brás Cubas, personagem do genial Machado de Assis, que já morto não precisava mais medir suas palavras e ações.    

“Essa idéia era nada menos que a invenção de um medicamento, um emplastro anti-hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade [...] Agora, porém, que estou cá do outro lado da vida, posso confessar tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas, e enfim nas caixinhas do remédio, estas três palavras: Emplasto Brás Cubas. Para que negá-lo? [...] Assim, a minha idéia trazia duas faces, como as medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De um lado, filantropia e lucro; de outro lado, sede de nomeada. Digamos: — amor da glória.”

(Capítulo extraído de Memórias Póstumas de Brás Cubas, presente na Obra Completa de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1994. Neste site: https://portodalinguagem.com.br/o-emplasto-memorias-postumas-de-bras-cubas-machado-de-assis/)

  

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