Veja!... a barriga do Ronaldo e o fim do ser humano

Veja!... a barriga do Ronaldo e o fim do ser humano

“Saiu na Veja e no Fantástico!” Quer coisa mais importante que isso?

Considerada a maior revista semanal de informação do país e a terceira maior do mundo, depois de Time e Newsweek, a revista Veja sempre surpreende. Na capa da semana passada (inicio de outubro 2012) temos Ronaldinho como ícone da força de vontade. E para fechar o domingão do Fantástico, uma matéria enorme sobre a epopéia deste senhor contra a obesidade.  Nem vou comentar, pois, levar à sério essa evidente propaganda sem absolutamente nenhum conteúdo é perda de tempo. Mais daquele blá blá blá, notadamente nocivo, que associa uma barriga reta com a felicidade, com toda aquela melação de que na verdade a estética não importa o que importa é a qualidade de vida. Obviamente há muito dinheiro envolvido nisso e infelizmente “quem pode mais chora menos”. A Nike e outras empresas singelas e pequeninas podem pagar muito dinheiro e dizer as bobagens que quiserem. Que prosperem os cirurgiões plásticos, academias de ginástica e linhas de produtos “premium light”.

Mudando de assunto, na revista Veja, Susan Greenfield, especialista em fisiologia cerebral, diz que estamos cada dia mais dependentes de redes sociais e videogames e prevê um futuro sombrio para os "nativos digitais", geração que passará a vida inteira online.

Susan não tem facebook nem twitter e parece ser uma pessoa ponderada. No entanto, vê nosso futuro com certo pessimismo. Coloca que os nativos digitais (pessoas que nasceram depois dos anos 1990) serão mais ou menos como zumbis que não conseguirão viver no espaço de três dimensões nem se comunicar com outras pessoas sem ser por meio de telas e teclados. Esses nativos terão QI maior, serão menos criativos e possivelmente vão evitar o contato físico direto ou o olhar nos olhos. As crianças vão brincar menos na rua com os coleguinhas como nós brincávamos há pouco tempo. 

Apesar de ponderada, e dizer que há benefícios e malefícios ao mesmo tempo,  Susan não gosta muito dessa coisa de computador, tela e mensagem instantânea. Coloca basicamente que as tecnologias digitais vão mudar o ser humano para pior. Em seu ponto de vista, jogar bola, bolinha de gude, rir com os amigos é melhor do que divertir-se no computador - que é tratado como uma droga a ser evitada e controlada.

A internet colocou a educação, o ensino e as relações humanas em teste; e agora vai colocar a própria realidade em que vivemos em teste. Até pouco tempo, tínhamos apenas uma maneira de aprender, de ser relacionar e de viver no mundo. Agora temos outras formas de experimentar isso. A questão é: qual delas iremos preferir?

Creio que estamos maravilhados com tudo que as novas tecnologias nos oferecem e simplesmente somos mamíferos típicos que adoram brincar com objetos novos. Por algum tempo a vida virtual vai se mostrar muito mais atraente, sobretudo para as crianças que vivem em apartamentos, condomínios fechados e são superprotegidas pelos pais inseguros. Mas a necessidade posta biologicamente de afeto e contato social impulsionarão o sujeito ao mais do mesmo, ou seja, ao bom e velho mundo real, mesmo que para isso tenha que consultar um psicanalista ou tomar remédios psicotrópicos. Esses nativos virtuais terão certa dificuldade em algumas coisas que nós não tivemos. Talvez o olho no olho seja mais difícil... Mas certamente esse será um desafio que constituirá a vida no futuro e não podemos poupar as novas gerações da sua responsabilidade sobre seus atos. A questão que fica é: por que queremos poupar a humanidade de certas mudanças? Será que consideramos nosso estado atual de consciência e cultura o máximo da perfeição? Será que desejamos manter o estado de coisas como estão porque temos medo das inevitáveis novidades da vida? 

Ronaldo faz bem: emagrecer, ficar saudável, viver mais tempo... Mais tempo para ficar online no Facebook.

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