Você é Black Bloc ou Bunda Mole?
Você já se sentiu extremamente indignado? Com vontade de matar alguém? De sair quebrando tudo?
Muito provavelmente sim. E muito provavelmente não o fez.
Não o fez porque é um “bunda mole” e aprendeu desde cedo a engolir sapos e a reprimir exigências instintuais. Sigmund Freud caracterizou isso como “O Mal estar na Civilização”. Se por um lado, reprimimos exigências instintuais para tornar a civilização possível, por outro, nos culpamos por nos sentirmos tão impotentes, tão fracos, tão “Bunda Moles”.
O grupo Black Bloc tem atuado de maneira contundente nessas últimas manifestações, quebrando coisas, batendo em pessoas e defendendo uma certa ideologia de que, sem barulho e desordem não se consegue nada. Eles estão completamente errados? Sabemos que não. Mas também não estão completamente certos.
O fato é que nós, bunda moles assumidos, não gostamos de “violência, vandalismo e quebra-quebra” (quantas vezes ouvimos isso da boca do Willian Bonner?) e isso pode acabar por esvaziar as manifestações. Uma forma de fazer uma manifestação ser efetiva é aumentar o carisma, atrair mais e mais gente... fazer com que a manifestação seja tipo um passeio no shopping... aí então a classe média (bunda moles, como eu e você) passaríamos a frequentá-la. A classe política vai olhar com outros olhos e o Jornal Nacional, não vai ter o que falar. Fica aí minha crítica e sugestão aos Black Blocs.
“Sou completamente a favor de manifestações pacíficas, mas contra vandalismo” diz a dona de casa que vai pegar um ônibus lotado e, depois de 2 horas e mais 3 ônibus, vai sonhar que estava andando de carro importado arrastando e esfolando o corpo do seu patrão por uma corrente em via pública. Sonhamos com um dia de fúria, com uma dia em que, por meio da violência total, resolveremos todos os nossos problemas.
Mas não. Somos comprometidos com a manutenção de uma certa ordem, que garanta nosso bem estar em frente a TV. Que garanta que nossos filhos, por mais que sejam maltratados, cheguem a escola. Que garanta que possamos caminhar nas ruas, sem sermos assassinados. Ou seja, coisa de adulto. Coisa de gente que, como eu, esta preocupada com as esferas privadas da vida (meu filho, minha casa, minha esposa).
Eu, bunda mole, não colocaria uma máscara negra. Não incentivaria meus amigos e familiares a aderir ao Black Bloc. Mas eu, nem de longe, vejo desordem e vandalismo como apenas um fator negativo do comportamento humano.
Prefiro vidraças quebradas, bombas explodindo e uma certa sensação de que as pessoas estão se mobilizando com sangue e suor, do que a passividade do empresário/político barrigudo que diz que “essa questão precisa ser discutida” ou “que medidas urgentes devem ser tomadas”. No final das contas, quem se ferra seremos sempre nós, a classe media bunda mole. Portanto, não me sinto no direito e nem com desejo de criticar ou falar mal de quem pôde ser Black Bloc, e não um Bunda Mole como eu e você.