Acontecer Verdadeiro Combate

Acontecer Verdadeiro Combate

DIA MUNDIAL DE COMBATE AO AVC

Um carro em alta velocidade. O motorista olha só para frente. Só. Chove. Aumenta a velocidade. O carro derrapa. Ele nem liga. Precisa chegar rápido sempre. A chuva vira tempestade. Ele percebe. O carro derrapa de novo. Controla-o. Sempre controlou. Pisa mais fundo. Tem de chegar rápido. Acostumou-se às tempestades, à velocidade, ao controle. Medo? Pôs viseira. Só olha pra frente. Fração de segundo. Bate. A vida? Acordou. Onde estava? Pânico. Precisa chegar. Sempre chegou. 
Parou. Olhou em volta. Aparelhos apitavam. Luzinhas vermelhas piscavam. Aventais brancos ora aceleravam de um lado para o outro, ora paravam ao pé da cama com uma prancheta nas mãos; ora pareciam autômatos, ora ficava difícil ver a diferença entre o ser e o avental. Anjos? Estranho lugar. A sucursal do inferno? Tentou perguntar. A voz saiu idiota. Pastosa. A saliva escorreu pelo canto da boca. Estranho. Quis levantar. Uma parte do corpo, sol; a outra, escuridão. Lembrou-se de um livro: “O visconde partido ao meio”, de Ítalo Calvino. 
Pensou. Pensava. Que bom! Os aventais perguntavam. Perguntavam. Sempre perguntas gêmeas. A toda hora: Quem é você? Onde mora? Quem são seus pais? Eu me perguntava: o que sou agora? Eus? Precisava ficar lúcido. Acordado. Consciente. Queria chorar. Desespero. Queria chegar. Ir embora. Mas, só podia ficar. Ouvir gemidos. Ficar. Apitos. Ficar. Ficar...
Os aventais trazem nomes no crachá. Outros apresentam sua voz. Alguns sorriam. Rugas na testa. Outros traziam o riso macio do vampiro. Queriam, porque queriam o meu sangue. Um avental diz: “Você deu muita sorte”. Outro avental repete. A frase univitelina: “Você deu muita sorte”. Virou mantra. Sorte? Que sorte? Onde ficou o carro? Onde ficou a tempestade? Que diabo de lugar é esse? Por que, só metade de mim, sou eu? A outra, não sei. Não sinto. Revejo minha mulher. Seu rosto. Ouço sua voz. Desespero. Vislumbro meus amigos. Susto. Eu cria, homem de ferro. Eu, agora, homem de lata. 
Um avental, voz grave, apresenta o grave veredito: serei assim. Metade de mim quer; outra, não. Acabou a corrida. Agora é o andar de rodas, o andara a pé. Pé ante pé. Preciso me aceitar. Todos os dias, durante todos esses anos, acordo sabendo que doerá. Foi essa dor no corpo, que torna o simples mexer de um dedo mindinho, minha vaga no vestibular.
Criei essa alegoria para agradecer a todos os aventais brancos, que me ajudaram a estar onde estou. Minha mulher não usa avental, mas é a melhor parte de mim. Não lhes dei nome, porque jamais poderia esquecer o nome de alguém. Aprendi: A diferença entre fracasso e sucesso está em como encarar a dor de cada dia. A cada dia, alguma coisa dói em nós: no corpo e/ou na alma. Estou sadio. Tenho certeza.Foi um acidente. E só.

O BRASIL ADORA SER CAMPEÃO

1. Campeão em acidentes de trânsito

2. campeão de mortes por AVC

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