AINDA TENHO MUITA COISA PARA BERRAR

AINDA TENHO MUITA COISA PARA BERRAR

(Luiz Cláudio Jubilato)

O Boca do Inferno voltou e direto do meu estômago revirado

Vou ao pleito a bordo do meu dedo indicador: indica a dor.

Nunca tive certeza de nada, não tenho certeza de nada a não ser a de que tenho cérebro, braços, pernas, pouca mobilidade física, que compenso com minha mente alerta e meus olhos atentos. Já vi muita coisa, do fanatismo a favor de um trocado pelo ódio e, por interesses espúrios, tornar-se fanático pelo outro.

Estamos na casa onde falta pão: "Todo mundo grita e ninguém tem razão". O Brasil tem saudades de um tempo que não viveu. Se há os poucos que passaram por ele, ou não aprenderam nada ou se alienaram, a exemplo da mocinha que gritava "Abaixo o STF" e não sabia o que a sigla significa.

Não nasci professsor. Nasci provocador. Aprendi a juntar uma profissão com outra de tanto levar porrada de sucessivos desgovernos e educadores, que precisam ser educados e, pior, precisam estudar. As perguntas de muitos dos meus pares são as que me faço. Revelam muito da impotência com que me deparo, principalmente em determinados dias em que falta o mês no fim do salário. E me envergonho. Agora, estou padrão, uma condição, não uma profissão.

O Brasil precisa de um choque de vergonha na cara. Um pais composto de reclamões que entrega seus destinos nas mãos de um idiota qualquer, porque todo político faz a mesma coisa: rouba. É triste, conscientemente, dar um cheque em branco a um ladrão. É certo que ele vai roubar, você querendo ou não. "Ah! Mas eu não votei nele". Votou sim, mesmo não votando, votando em branco ou anulando o voto. Nada disso isenta um idiota de permitir que un débil mental gerencie 230 milhões.

Sempre tive certeza de que posso fazer mais, não apenas reclamar de políticos calhordas e do povo alienado, como 99,9% dos brasileiros fazem: Onde esse país vai parar? Na mentira, é lógico. "Somos um país pobre" é a pior delas. Somos um país de pobres sim: pobres de espírito. Errei? Claro, e muitas vezes. Tentei? Sim. E continuo tentando.

Só que decidi a ir mais longe do que já fui, bem depois da esquina que quebra o meu caminho. Se não sei fazer, invisto em quem sabe. Pergunto: Em quais movimentos sociais e/ou ambientais se engajou nos últimos tempos? Quantas vezes largou a caneta e a tecla, pegou um megafone, arregaçou as mangas e foi fazer alguma coisa?

Sei para onde não vou. Não vou atrás de ninguém que nunca pegou em uma enxada. Vejo intelectuais em crise existencial, jogando a responsabilidade para outras pessoas: "Ninguém faz nada" – dizem. Eles também não. "Ensino". O quê? Seja lá o que for, não é suficiente. "Por quê?" Porque a escola é castradora. É fã do conteudismo. Precisa, para ser procurada por pais afoitos, apresentar resultados imediatos. É o culto à vaga rápida.

Esse ser abjeto que ocupa o mais alto cargo da nação, projeto de ditador de fancaria, pode ser reeleito, depois de todos os absurdos e vergonhas que nos fez e faz passar. O medo grita: Fazer o quê?

Há salvação. Vejo gente incomodada com a destriição, faxinando oceanos, mesmo sabendo que a tarefa é inglória. Vejo gente queimada, chorando, porque não conseguiu salvar um tamanduá de um incêndio criminoso. Vejo gente enfiada na Amazônia lutando contra o desmatamento. Vejo jovens lutando para trazer o mínimo de dignidade para pessoas de assentamentos miseráveis. Vejo gente trabalhando na Cracolândia, tentando tirar pessoas da condição de zumbis.

Vejo uma chamada contundente: “Sou a voz dos oceanos”. Você é a voz de quem? Ou não tem voz? Ou perdeu covardemente por culpa do medo? Tenho medo de ter medo.

Não creio em políticos, creio em ideias e atitudes. Creio no “ser” humano. Não creio em "achismos". Creio em opiniões fundamentadas. Seleciono-as, para ajudar a formar a minha. Não rezo pela bíblia de partidos políticos e não tenho politicos de estimação. Penso.

E neste país de papagaios de pirata já é muita coisa. Vou contar um segredo a você, enorme leitor eleitor: Seja quem for o presidente, ele não salvará ninguém e nem colocar bengalas em um país quebrado respirando por aparelhos. Está comprometido com o poder, o messianismo, os empreiteiros, os banqueiros, os lobistas e os puxa-sacos.

Quem olha para o presidente, não olha para o congresso do qual todo presidente é refém. Estamos reféns desse congresso de cuecas, de espertalhões, de coroneis, do baixo clero, do centrão, de baba-ovos, cheio de políticos profissionais corruptos e corruptores.

Você vai se ferrar. Só votou? Não cobrou nada desse indivíduo em quem votou? Ou não? Votou em um ser que ocupa um cargo à prova de inflação, desemprego, prisão? Você perdeu o seu emprego; os políticos não. Você recebeu esmolas do governo? Eles também. O desgoverno cobra de você otário. Pense, pelo menos uma vez, sem abraçar uma causa coberta de mentiras. Pense. Faz bem.

Compartilhar: