AOS QUE NOS JOGARAM NA LAMA

AOS QUE NOS JOGARAM NA LAMA

           Quando pensei que já ouvira todo tipo de disparate acerca dos absurdos que constroem a nossa pátria gloriosa (o último foi o da Dilma e sua mandioca), eis que uma reportagem me brinda com a seguinte construção frasal traduzida pelo coitado do enlameado repórter, com as imagens sempre acachapantes do desastre ao fundo: A Construtora samarco (não escrevo esse nome impróprio em letra maiúscula) já está desviando água de pequenos afluentes para o Rio Doce com a intenção de tornar a água menos barrenta e, com essa atitude msiúscula, aumentar o fluxo para a rápida vazão da lama até o mar. Então, primeiro, vão sujar o que está limpo; segundo, vão usar o sujo para limpar o que está sujo. Desculpem: eu só queria entender. Nem você, nem os filhos dos seus filhos, nem os filhos dos filhos dos seus filhos beberão dessa água, se tiverem o mínimo de juízo.

            Antes dessa preciosidade, um engenheiro, capataz, mestre de obras, piloto de fórmula Truck, astronauta, sei lá, empostou a voz para soltar, diante das câmeras, a seguinte pérola: A mineradora está construindo um local para segurar a lama, formando uma lagoa de rejeitos, antes que a lama chegue ao rio, caso outra barragem se rompa.

            Pera aí, cara-pálida! Então, há perigo de outras lagoas se romperem? Por que isso não foi feito antes, já que a mineradora tinha certeza de que o desastre era iminente?

            A inteligência humana é desumana. O método revolucionário usado para salvar o rio da morte é a dragagem, isto é, retirar a lama sedimentada, assassina de toda a vida dentro das ex-águas. Essa atitude de filme de Fellini (para quem não o conhece, sempre foi um genial cineasta italiano especialista em nonsene) revolve o fundo do rio, contrariando o velho e sábio ditado mineiro que diz que ‘revolver o fundo traz o lodo à tona’.

            Não sou ecologista, mas também não sou burro. A ferida continua aberta, cheia de pus. A lama continua jorrando morro abaixo. Por que não estancam o sangue contaminado, ao invés de rapidinho construir uma barragem de uma hora para a outra? “Aí tem?!” Tem caroço nesse angu! (mineiro não diz isso à toa).

            Na hora, fiquei atônito. Depois apalermado. Depois indignado. Depois resolvi escrever esse artigo. Agora decidi: Não vou embora pra Pasárgada (desculpe Manoel), lá nem conheço o rei, mas onde há rei, há um bando de canalhas. Não posso ficar passivo vendo-os destruírem o meu país. Não me calo, nem nunca me calarei.

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