A burrice dança

A burrice dança

Considerei a possibilidade de dançar. Nunca soube dançar. Agora, manco, queria dançar. Inveja-me a destreza dos pés dos outros, o manejo do corpo do outro. Já não consigo sequer coordenar uma das partes do meu corpo dividido ao meio, contudo encasquetei com essa história de dançar. Queria, porque queria me superar. A moça bonita me disse palavras bonitas, certamente surrupiada de um desses livros de autoajuda. Tudo estava contra mim, inclusive, aquela coisa barulhenta, mais falada do que cantada, a que chamam de música. Dançar, para mim, era questão de honra, não para a mulher que me guiava como se guiasse um cego. E eu era cego das pernas e dos olhos e da boca e dos sentidos e colo de mãe. A gente, às vezes, é cega quanto às nossas limitações. Essa cegueira anda de mãos dadas com a burrice. (Luke)

 

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