CAMAROTIZAÇÃO

CAMAROTIZAÇÃO

A FUVEST tem a mania de usar uma palavra sofisticada para impressionar o candidato, desestabilizá-lo. É fácil desestabilizar um jovem para que ele não enxergue o óbvio. O procedimento visa surpreender os incautos. Derivada de camarote, CAMAROTIZAÇÃO está no centro do "show busness" dos vestibulares. O tema não poderia ser mais repisado. Não há um dia em que o noticiário não aborde a "desigualdade social" desse Brasil varonil. Não há uma obra literária, em verso ou prosa, que não o coloque no clímax das intenções do escrivinhador. Boa parte dos candidatos a uma vaga na USP não percebeu.

A palavra ganhou ares "cult" depois da prova de redação da FUVEST. O tema, o qual ela sintetiza, deu uma sova impiedosa na maioria dos candidatos a uma vaga na USP, uma das maiores universidades brasileiras. A própria Universidade de São Paulo é um exemplo gritante de CAMAROTIZAÇÃO. Ao pedir que os alunos dissertassem sobre ele, não olhou para o próprio umbigo; nem eles, para o falido umbigo dela.

E observem uma coisa interessante: os alunos tinham à sua disposição uma lista de livros, como "O Cortiço", "Capitães da reia", "Memórias Póstumas de Brás Cubas", "Vidas Secas", alguns dos pilares da nossa literatura, para inspirá-los. Não perceberam. Os professores viram, de camarote, o desespero da "elite intelectual", no dia seguinte. Havia também três textos e um país para ajudá-los a pensar. Não perceberam. O mundo também batia às portas da razão de quem a cultiva. Quem não a cultiva, caiu na esparrela. Que triste! jovens que não enchergam sua própria história.

Glorinha Kalil, colunista de vários veículos de comunicação, ditadora de regras de etiqueta para a elite, resolveu desancá-la. Para ser mais modernosa na sua crítica, usou o neologismo CAMAROTIZAÇÃO. O real mote do seu artigo de opinião foi Trancoso: agora paraíso dos milionários, famosos, alpinistas sociais e seguidores da guru "etiquetária" (e dá-lhe mais um neologismo). O mais interessante em tudo isso foi o fato de ela ser aplaudida justamente por aqueles os quais criticou impiedosamente. engraçado! ela usufrui justamente das mordomias oferecidas por eles. Não a entenderam, mas aplaudiram, afinal era Glorinha Kalil. Que ridículo! A elite não se vê no espelho.

Não é só no vestibular para a USP que os mais abastados "levam ferro", porque não conseguem entender o óbvio. Logicamente, possuem um olho vesgo, fruto da má preparação para as provas e para a vida. No entanto, a FUVEST contrata um monte de professores para corrigir os textos: "Salvam os coerentes. Reprovam os inconsistentes". Quem contratará professores para, no mínimo, colocar óculos na elite brasileira? Poderia ser Michael Kors, diria Glorinha. Quem a reprovaria? Será Dilma? Aécio? Lula? Fernando Henrique?

A classe média, desesperada para frequentar o camarote, nem percebe que é tema da FUVEST, dos noticiários, documentários e artigos. A maioria a ridiculariza. O óbvio existe, contudo ela não consegue fazer a leitura, vestibulanda, que é. Os seus argumentos são inconsistentes, quando está preocupada apenas com a escalada, os degraus estão ali, apesar de o camarote estar acolá: Vive "levando pau" no vestibular da vida.

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