COMO SÃO LINDAS AS MULHERES

COMO SÃO LINDAS AS MULHERES

MEXENDO NOS MEUS ALFARRÁBIOS, ACHEI ESSA CRÔNICA QUE ESCREVI HÁ 15 ANOS, QUANDO O "FEMINISMO" TINHA OUTRAS VERSÕES E NÃO ME ARREPENDO DE UMA SÓ PALAVRA. RATIFICO-AS.

“Nunca houve uma mulher como Gilda”. O cartaz estampava o rosto maravilhoso e sensual de Rita Haiworth. Um apaixonado e embasbacado Orson Welles saiu-se com essa quando a camareira pediu para limpar o suor do rosto daquela deusa: “Misses Haiworth não sua. Misses Haiworth fulgura”. Nunca houve uma mulher como Rita, mesmo que na sua infinita solidão tenha dito que os homens dormiam com Gilda e acordavam com ela. Rita não tinha o direito de ser real. Mulheres como ela nasceram para insinuar desejos na noite.

Nunca houve mulher como Ava, “O animal mais belo sobre a face da terra”. Ava Gardner era nada mais nada menos do que um delírio tornado humano, como se um anjo fosse capaz de tocar o chão. Ava não andava, desfilava. Não chegava, resplandecia. Não pedia, exigia com suas formas esculturais e seus olhos provocantes.

Nunca houve mulher como Marilyn. Aquele solfejo ligeiramente embriagado para um embasbacado presidente Kennedy entorpeceu de desejos homens de inúmeras gerações. Marilyn Monroe era nitroglicerina pura transformada em formas esculturais. Era o sonho tornado realidade, o delírio concretizado no sorriso de trejeitos marotos. O objeto do desejo de dez entre dez homens extasiados em frente a uma tela em tecnicolor.

Nunca haverá uma mulher como Maria Callas cujo canto entrava pelos poros e entorpecia os sentidos até dilacerar as entranhas, como jamais haverá um canto tão sublime como o de Kiri Te Kanawa, capaz de embalar os anjos e os homens nas mesmas notas. Jamais existirá outra Janis Joplin ou outra Joan Baez ou outra Carole King, cujas canções carregaram em cada palavra os gritos de protesto de toda uma geração. Nunca houve nem haverá outra mulher como Simone de Beauvoir, nem como Indira Gandhi, nem como Golda Meir, nem como Margareth Thatcher, nem como Zilda Arns.

Ainda não falei de Cora Coralina, nem de Raquel de Queirós, nem de Lia Luft, nem de Clarice Lispector, nem de Lígia Fagundes Teles, nem de Cecília Meireles, nem de Florbela Espanca, nem de Virgínia Wolf, nem de Mary Shelley, nem de Danuza Leão, nem de Leila Diniz, nem de Fernanda Montenegro, nem de Darlene Glória, nem de Lélia Abramo, nem de Zilka Salaberri, nem de Tônia Carreiro, nem de Bete Mendes, nem de... pois não seria necessário, o DNA de cada uma delas está impregnado na história da nossa humanidade se já as vemos ou as lemos ou as ouvimos ou as respiramos ou as tocamos ou se as engolimos com tudo o que temos de mais visceral.

Eu, menino que era, vivia, com meus amigos, suspirando por Rose de Primo, Sônia Braga, Ítala Nandi, Sandra Barsotti, Zezé Motta, Nadia Lippi, Catherine Deneuve, Cláudia Cardinale, Virna Lise, Anita Ekeberg... Como diria o grande Manuel, desfraldando mais uma de suas bandeiras: “Como as mulheres são lindas / inútil pensar que é do vestido”. Lençóis amarfanhados, suor e calafrios, noites muito bem mal dormidas.

Eu, garoto que era, vivia a pensar na primeira mulher da minha vida, aquela que teria que conquistar. Quanto suor frio nas mãos nervosas, quanta respiração ofegante e pudor misturado ao medo naquele beijinho trocado furtivamente no portão. Ah! a primeira namorada. Os navegadores de internet jamais terão a imensa sensação do beijinho no portão, quando o coração fica pequenininho, como se estivesse amassado na palma da mão. Falta a eles a ingenuidade necessária para sabê-lo. Ficam adultos rápido demais.

Minha mulher, minha filha, minha mãe, minha avó. Na verdade, eu não as tenho, elas é que me têm. Foram elas que me deram nome, estabilidade, apelido, desejo de continuar quando fraquejo, vontade de parar quando exagero, medo de errar quando novamente erro. Não há nada mais lindo do que uma mulher linda. E lindas são todas as mulheres. Inútil pensar que é da maquiagem ou dos truques estéticos. São lindas apenas e tão somente por serem mulheres.

Se um Deus existe, só pode ser uma mulher. Somente as mulheres são capazes de gerar, gerar belezas infindas.

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