DIA DOS MEUS PROFESSORES

DIA DOS MEUS PROFESSORES

Eu queria, aos 17 anos, ser jornalista e escritor. Não fui nenhum dos dois. Na hora da inscrição para o vestibular, mudei, vá saber o motivo, para o curso de letras. Na primeira aula, perguntei-mel angustiado, o que eu estou fazendo aqui? A resposta veio exatamente seis meses depois. Os jornais perderam um talvez medíocre jornalista. A literatura perdeu um limitado escritor. A sala de aula, no entanto, recebeu um "viciado" professor. A professora Regina me preveniu, mas eu não acreditei: "Giz é como cachaça, depois que ele contamina a sua alma, você não o larga mais". Sou um "viciado 'gizeiro' até hoje. Tenho até ciúme, quando não sou eu que está ali aprendendo a ensinar os dorminhocos, os atentos, os "nem aí"... Acreditei que eu seria, como professor, uma das chaves que ajudaria a romper grilhões. Arrancar algemas. Entrei na vida de um monte de gente, sem pedir licença, por causa disso.

Quero deixar claro que nunca tive maus ou bons alunos, mas pessoas com habilidades diferentes, as quais eu tinha o dever de explorar. Fiquei angustiado, peço desculpas, quando não consegui. Senti-me impotente, podem acreditar. Mergulhei no mundo das palavras, porque cri que esse seria o caminho e tentei arrastá-los para o abismo comigo.Respondi a mesma pergunta várias, inclusive a fatal: "O que o senhor faz além de dar aula?" Sempre tive a ambição de estar à frente do meu tempo, por isso, sem nenhuma falsa modéstia, me coloquei na condição de "provocador". Aprendi muito com os que se revoltavam, com os que se calavam, com os que pregaram os olhos no chão, os que perguntavam, os que tremiam ante à pergunta, quase mantra: "Por que você não fez a redação?" Dediquei minha vida (dos 18 aos 56 anos) a ajudá-los a criar. Se o fiz, bem ou mal, somente eles podem julgar, mas, ao vê-los advogados, médicos, professores... sinto uma pontinha (sem sentimentalismo barato) de mim. Não cheguei aonde quero, isso me motiva a continuar. O giz sumiu, surgiram o pincel e o power point. A alma continua contaminada. Tive e tenho a ajuda constante e muito bem vinda de outros professores, que me colocam na condição de aluno-explorador e me mostram o tanto que ainda tenho a aprender. Romper grilhões continua a ser a minha ambição e também o meu mantra. Continuo provocador. Mas, há a minha marca registrada, sem a qual não seria o provocador: "Por que você não fez a redação?" Como sempre, ficarei depois da aula, até sugarmos um do outro o possível, muitas vezes o quase impossível.

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