ENEM: PIADA PRONTA

ENEM: PIADA PRONTA

A propaganda oficial vai na direção da autopromoção; a realidade vai na direção contrária, à da bagunça oficial. O governo Lula vendeu a falácia de que o "monstrengo" acabaria com o vestibular tradicional, mas o ENEM se tornou o maior e o pior vestibular do Brasil.

Quase nove milhões de pessoas se acotovelaram na porta das escolas e faculdades espalhadas pelo país, para, em dois dias, enfrentar uma maratona: 90 testes, no sábado (4:30h) e, no domingo, 90 testes + uma redação (5:30h). É praticamente uma FUVEST e uma UNESP por dia, com algumas pequenas, porém grandes diferenças, o aluno tem 5h para resolver as questões, na primeira fase, e 2h para escrever a sua dissertação, na segunda.

O ENEM já perdeu, há muito, sua credibilidade, devido aos sucessivos escândalos, que envolvem vazamento de provas, dentre outras "cozitas mas". Como vivemos no país faz contas, nada acontece. Denúncias morrem como boatos. Há um aparato montado para desmontar protestos.

A maioria esmagadora dos professores limita-se a comentar a prova, as escolas a inventar métodos "alternativos" para desestressar o aluno desesperado. Isso está virando uma patacoada só. Boa parte dos jovens aposta a "vida" no ENEM e foge de outros vestibulares para excelentes faculdades, porque morrem de medo de não conseguirem a tão sonhada vaga, no entanto se submetem a um vestibular mais complicado.

O MEC não garante a porta mais fácil para o mais difícil? Vocé, que prestou, acha tão fácil assim? Conheço alguns que só prestaram essa coisa para mostrarem aos pais sua capacidade de entrar numa faculdade pública, contudo nunca tiveram a mínima intenção de cursá-la. Ir para Manaus? Nem pensar. Rasparam a cabeça. Ganharam carros como presentes.

1. Em 1998 o governo FHC criou o ENEM com o seguinte objetivo: ele se tornaria uma forma de auferir a quantas andava o ensino médio no país. O ENEM acabaria com o "conteudismo" e o "adestradamento" dos vestibulandos valorizando apenas o raciocínio lógico. Um ano depois, como não houve adesão das escolas, o governo a tornou uma porta de entrada para uma série de faculdades. O Exame seria, a partir de então, uma prova conteudista, isto é, sem uma boa apostila e adestradores, o aluno não teria a mínima condição de disputar uma vaga numa das universidades relacionadas pelo MEC.

2. Com uma boa "dose" de convencimento, o MEC obrigou as universidades federais aderiram ao Exame Nacional do Ensino Médio durante o governo Lula. Propiciou a elas uma escolha fácil: ou aderem ou aderem. O PT viu, no ENEM, então, a oportunidade e não a deixou escapar, transformou-o na maior máquina para angariar votos da história em cima de um monte de mentiras. A principal: "Você, que é pobre, pode ter um filho numa universidade, cursando medicina". O Exame virou a única forma de o aluno conseguir uma vaga nas universidades federais e ainda usufruir dos financiamentos criados pelo governo, como: o FIES, o PROUNI, o CIÊNCIA SEM FRONTEIRAS...

3. Mais uma vez sai o boato de vazamento do tema da prova de redação, "Publicidade infantil em questão no Brasil". Todo mundo riu. Não percebem o tamanho do seu prejuízo. Esses "vazamentos" já tiraram toda a credibilidade do Exame, mas o povão tem memória fraca. "Ninguém está nem aí". Neste ano, o INEP se apressou em desmentir o desmentido. Por via das dúvidas, divulgou o tema antes do prometido, como nunca fez. Melhor se prevenir. O INEP já cometeu o absurdo de burlar a si mesmo. Devolveu, para o seu banco de questões, algumas aplicadas em provas de nivelamento nas escolas de fortaleza. Resultado: essas questões foram parar na prova oficial. Os trapalhões?

4. Fiscais mal treinados, fiscalização precária, escolas caindo aos pedaços, sem as mínimas condições de abrigar os candidatos, são alguns dos problemas mais leves já apresentados. Pense na seguinte situação: no calor de 40 graus de Ribeirão Preto, há igualdade entre o aluno que faz a prova na escola pública (cadeiras capengas, nenhum ventilador) e o que faz na escola particular (cadeira estofada, ar condicionado)? Há locais suficientes para resolver esse problema?

5. O MEC gritou que, com uma única inscrição, daria aos pobres e aos ricos as mesmas condições de disputarem a mesma vaga nas universidades públicas. Mentira: sem uma apostila e adestradores, não é possível disputar vaga, em igualdade de condições, em nenhuma universidade. A prova é escandalosamente conteudista. Quem mora no campo e quem mora nas grandes cidades têm as mesmas oportunidades? Quem mora nas pequenas cidades têm as mesmas oportunidades de quem mora nas grandes cidades? Os alunos de escolas públicas e escolas particulares têm as mesmas oportunidades?

6. Você, perdido leitor, acha que uma prova "Nacional", aplicada num país de dimensões continentais, com tamanhas desigualdades sociais, econômicas e educacionais, realmente tem oportunidade de dar certo? Não foi dito e redito pelo ministro da educação e o presidente do INEP que não haveria problemas, pois todas as medidas de segurança foram tomadas? Como 65 pessoas tiraram fotos das provas?

7. Você, estressado leitor, com um texto deste tamanho, crê que um paulista irá para Manaus, Maceió, Fortaleza cursar medicina? E, se for, você crê que ele dará retorno ao estado que, através de impostos e incentivos, investiu nele?

Sempre fui contra o ENEM, desde sua gestação, por três,motivos básicos: a) seria impossível criar seguidas provas de raciocínio lógico, sem apelar para o conteudismo. b) a prova, querendo ou não, se tornaria, como se tornou, previsível. c) nossas desigualdades políticas, econômicas, sociais, educacionais jamais permitirão uma prova nacional em que existam igualdade de oportunidades. Um aluno nordestino, menos abastado, viria estudar no sul maravilha? Um paulista abastado se mudaria para Manaus estudar medicina? Duvido. Pode haver exceções. Pode. Exceções ocorrem em qualquer lugar.

Por que não regionalizar o ENEM?

Da forma como está, a universidade pública continuará sendo um terreno reservado aos mais abastados. Para osmenos abastados, ficarão reservadas as universidades particulares, até mesmo as que o MEC não tem tempo para fiscalizar ou atesta sua pouca ou nenhuma qualidade.

A piada é presenciarmos um escândalo por ano e ainda fazermos de conta que nada de grave está acontecendo.

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