A escola tem paredes

A escola tem paredes

(Prof. Luiz Cláudio Jubilato)

Há uma frase mais imbecil que essa? “Gosto não se discute”. A justificativa pior: “Cada um tem o seu”. Por incrível que pareça, há sim: “Política, religião e futebol não se discutem”. A pergunta é: “Por quê não?”. Resposta: Por que vira briga. Então, vamos “discutir o sexo dos anjos”. Não é à toa que o Brasil é um país subdesenvolvido. Nada do que é importante se discute aqui. Aí vem o vestibular tentando “Cavar um buraco no deserto” ou “enxugar gelo”. (Não fui sequer criativo nessas observações, porque me debato com o óbvio. Preciso me fazer entender) com propostas do tipo: A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos (conhecimentos ou decoreba?) construídos ao longo de sua formação (Qual? A literatura foi usada como castigo, o aluno só estuda, para fazer as provas, ter aulas sobre coisas que jamais usará), redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “X,Y,Z”, apresentando proposta de intervenção (alunos e até professores acham que “intervir” é “solucionar”) respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos (onde ele buscará argumentos, se aprendeu a vida inteira a não discutir o mais importante?) e fatos para defesa de seu ponto de vista. (Onde ele comprou o tal ponto de vista? A maioria dos vestibulandos nunca foram apresentados a uma tese).

Os resultados são vergonhosos. Uma quantidade esmagadora de alunos redigiu textos abaixo da média. Não sabe discutir um tema polêmico sobre a realidade sociopolítica ou socioeconômica ou sociocultural na qual está inserido. Inclusive, ficam tão desesperados que vão buscar um “modelo” de redação (o mais fácil possível), entre os milhares que existem na internet. A contradição é que há um grupo que defende “a escola sem partido”, mas exige que o filho tome partido na prova. Dizem: “Há! não é bem assim”. É sim. Leiam os temas do ENEM e de outras universidades públicas. Disse-me um dos que estavam em um debate: “Usamos esse movimento para expulsar os comunistas”. Eu lhe expliquei: a) Se achar um comunista, por favor, me apresente. b) Se há tantos, ensine seus filhos a defender suas posições, para que não sejam arrastados “por ideologias espúrias”. Não é mesmo? Eles tomarão suas próprias decisões durante a vida. Até quando?! c) Proibir é a melhor forma de ser enganado(a).

Sabem qual é o maior problema da escola de hoje? Ela tem paredes. Paredes físicas, mentais, morais, emocionais e, pior, as concretas. A escola é o lugar mais chato e opressor da sociedade. A pior das paredes é a prova. Provas avaliam duas pessoas: Quem é obrigado a responder e também quem a elaborou. “Alunos hoje são burros, não leem nem bula de remédio”.

Para repreender o aluno, o senso comum é: “Sua liberdade termina, quando a do outro começa”. Ah, é? Que lindo!!! A liberdade é mensurável? Então, para que servem a Constituição e o Código Penal? Para que servem os advogados e juízes, a não ser defender os direitos e cobrar os deveres dos envolvidos em disputas? A aplicabilidade da lei é outra coisa, aí entram o preconceito de raça, classe social etc. Liberdades não são mensuráveis, por isso há conflitos.

Advogados argumentam, participam de debates. Candidatos a cargos eletivos argumentam em favor de suas ideias. E essas ideias? Saíram de onde? “Ah! Não vou votar em ninguém, política não me interessa”. O que lhe interessa? Vai votar sim. Não há jeito. Vai votar em quem ganhou, mesmo não indo às urnas. E, pior, vai ser governado por ele(a) durante quatro anos, reclamar o tempo todo e transferir responsabilidades: “Mas ninguém faz nada”. Nem você. Ou não enxerga, ou é preguiçoso. Não tem boca, nem braços, nem cérebro, nem vontade? A escola tem paredes. Não ter a consciência de que elas existem é o mesmo que acender o pavio e esperar a bomba explodir lá na frente: a alienação. Nasce um ser facilmente manipulável, suscetível às “FAKE NEWS” (mentiras).

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