Feira do Livro de Ribeirão Preto

Feira do Livro de Ribeirão Preto

Fui do Capão Redondo a Manaus
do hip-hop ao Jabuti
Feira do Livro de Ribeirão Preto
(Prof.: Luiz Cláudio Jubilato)


Participo da "Feira do Livro de Ribeirão Preto" todos anos de diversas formas. Já tive o prazer inenarrável de debater Carlos Drummond de Andrade com mendigos, bêbados e prostitutas, alguns por vontade própria, outros empurrados pelas próprias famílias, outros por escolha. É verdade. O mendigo, que me interrompeu e recitou Drummond, era um ex-professor de literatura, que morava nas ruas e recebia moedas nas esquinas por escolha.  

 

Foi na Feira que paguei por um livro que um pretinho (nas palavras do livreiro) roubou. E quem rouba livros em um país como este? Esse menino merecia o prêmio Jabuti. Já tentei encontrá-lo, mas não conseguiu. Fiquei preocupadíssimo com ele, pode estar encarcerado em presidio qualquer, ele é um perigo para a sociedade, afinal ele pensa, sofre, indigna-se, contesta, roubando livros.

 

Invejem-me, pobres mortais leitores, estive a menos de um braço de distância de Luís Fernando Veríssimo, Pedro Bandeira, Inácio de Loyola Brandão, Cristóvão Tezza, Moacir Scliar e tantos e tantos que nem me lembro mais. Morram de inveja, pobres mortais. Os teatros estavam lotados de devoradores de livros: "Esse país tem jeito sim". Jovens velhos e velhos jovens; velhos velhos e jovens jovens juntos e misturados.

 

Neste ano, por culpa e por causa do vestibular, abandonei o Teatro Pedro II e fui para a "Fábrica" debater com Toni C. e Milton Hatoum. A modernidade reside na diversidade. Fui do hip-hop dos Racionais, "Sobrevivendo no Inferno", no qual sobrevivemos, à Manaus descaracterizada de "Dois irmãos" de Hatoum, tão descaracterizada quanto o Ribeirão ainda mais Preto.
Invejem-me, pobres mortais, traças de livros. Tenho certeza de que, apesar de parecerem pessoas de carne e osso, poetas e romanistas e músicos e cordelistas... são a mais fina flor da nossa ancestralidade, carregam mundos dentro de si. Pelos poros saem palavras e, como disse Eliane Brum, que aqui esteve: "Sou palavras". 

 

Quem disse que essa juventude está perdida, deveria descer do pedestal e dignar-se a enxergar o mundo dos mortais e repensar-se: São seres que pensam que ela não pensa. Os jovens com os quais troquei experiências históricas, filosóficas, sociológicas, literárias... pensam e agem de acordo com o pensar de jovem. O mundo se revolve, revolve-se e nós, mais velhos, temos que repensar o pensar.

 

A Feira do Livro me faz observar que cada pessoa é um livro ambulante, cheio de páginas: algumas escritas, outras rabiscadas, outras em branco que precisa ser contada e recontada por si mesma ou por alguém como Daniela Penha, com sua "História do Dia". E eu sei o tanto que isso significa.
Evoé.

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