FELIZ DIA DOS PROFESSORES

FELIZ DIA DOS PROFESSORES

Lula chama Bolsonaro de corrupto. Bolsonaro chama Lula de ladrão: os dois têm razão. Um sábio ditado popular aponta: "Quando Maria ataca João. Sei mais de Maria do que de João". Nada faz sentido. A campanha para o cargo majoritário da nação virou um discurso de surdos, discurso de ódio enfiado dentro de seitas radicais. Um discurso de ódio, burro, mentiroso e reducionista.
O reducionismo empurrou o discurso unicamente para a questão da corrupção, quando há problemas muito mais graves, como a possibilidade de um governo totalitário. As promessas dos candidatos ao cargo majoritário da nação não têm a mínima chance de serem levadas a sério. Os 5% do PIB gastos para a reeleição quebraram o país. O Brasil quebrou, só não contaram para você. Os discursos destrambelhados são aplaudidos de pé e se tornaram instrumentos de "argumentação" nesta campanha (des)política.
E nós, professores, onde entramos nisso? Fácil. Falhamos vergonhosamente na arte de ensinar o aluno a exercitar o senso crítico. A maioria aceitou passivamente ser jogada no mesmo saco de gatos: "formadores de comunistas". Falhamos vergonhosamente na arte de ensinar os nossos alunos a decodificar informações, analisar textos, romper com as paredes da escola. Falhamos vergosamente em ensinar a vigilância epistêmica, ou seja, tome cuidado com tudo o que você ouve, lê ou vê.
O corte de 2,6 bilhões para o funcionamento das universidades públicas não sensibilizou a população, mais de 50% não entrará na universidade, até porque todos os governos fizeram, em maior ou menor frequência, a mesma coisa. Fazer cortes em educação e saúde são uma espécie de esporte político nacional, a melhor forma de tampar os buracos da roubalheira dos sucessivos (des)governos.
E onde entramos nós, professores, nisso? Falhamos claramente ao incentivarmos esse moedor de carne chamado ENEM, criar modelos para que os alunos, que não sabem escrever, sejam empurrados para dentro das universidades. A internet está entupida desses modelos: "melhor colocar uma placa dizendo que há um buraco do que tampá-lo". É assim que funciona. Lentes de contato para quem não tem visão.
A balbúrdia, na qual se transformou o INEP, não interessa, interessa sim é saber se haverá a prova nos mesmos moldes de sempre, afinal professores e editoras já têm materiais previamente escritos. Imagine, se a prova mudar, o tamanho do prejuízo. Mas, não mudará, a elite precisa desesperadamente do diploma, para que os rebentos virem doutores. Vale a pena enganar o populacho com a história das oportunidades iguais para todos que o ENEM proporciona. No Brasil não se aprende a estudar para saber. Funciona o adestramento para fazer provas. Não adianta talento sem nota. Na verdade, não se estuda. Submete-se o aluno às sucessivas maratonas (massacres) de 90 questões podem ser resolvidas 4:30h horas de duração nos vestibulares.
A literatura virou instrumento de tortura: ler para fazer provas. Listagens oficiais para as provas de vestibulares desestimulam a leitura e incentivam a mutilação das obras: os resumos.
E nós, professores, onde entramos nisso? Aceitamos os modelos pré-estabelecidos para manter nossos empregos. O Professor da escola pública é refém do salário "mérdico" e da estrutura falida; o da particular, do IBOPE, do índice de aprovação e da vida de caixeiro viajante. Não há romantismo nesta profissão, é uma das mais desprezadas historicamente neste país. Hoje não. Hoje haverá elogios e mais elogios. Na segunda-feira, o smarthfone substituirá a aula. A musiquinha soará: "Professor, por que cê veio, nós já estamos de saco cheio"!!!
Por que estou escrevendo um texto com esse teor em um dia de festa? Que festa para a qual a maioria não foi convidada? Hoje abri a internet e vi algumas coisas que me deixaram assustado: uma das professoras, que mais admiro, explicava a um aluno o que é misoginia e homofobia. Mas, o discurso dela era tão radical, que incentivava o extremismo: não foi ensino, foi cooptação. O velho papo de esquerda e direita: A Revolução Francesa já acabou. Um discurso reducionista, que levava o debate apenas para o campo da corrupção. Ao invés de abrir a discussão, colocava uma viseira no perguntador. Conhecendo a professora, pensei que o texto fosse uma "fake news". Não era. Infelizmente.
Parabéns aos que abrem portas, não os que fecham.
Faça uma pesquisa na escola com os bons alunos. Pergunte quem quer ser professor? A resposta não surpreenderá ninguém. O mau aluno, entra na faculdade e se torna um mau profissional. Se não der em nada, virará professor, que criará um mau aluno, que criará mau profissional... alimentando o ciclo tenebroso.
Parabéns aos idealistas e ativistas que buscam mudar esse panorama sofrível. Viva o dia do professor, de fato. Um dia que não pode terminar à meia-noite.

Compartilhar: