FUNDAÇÃO DO PARTIDO MPTC: Partido dos pais trocados por qualquer coisa

FUNDAÇÃO DO PARTIDO MPTC: Partido dos pais trocados por qualquer coisa

Domingo é o das mães?

Se é assim, não há melhor dia para fundar um partido. Estou fundando o MPTC: Movimento dos pais trocados por qualquer coisa.

 

Você pensou que eu falaria de mães, né? Enganou-se redondamente. Não quero falar de mães. Quero falar de pais. Esses seres despresados que só contribuíram com uma parte ínfima para o nascimento daquele carrento que, até certo ponto da vida, mama na mãe. E, depois, mama no pai. Ainda bem que isso mudou um pouco. Sobre esse aspecto: “Viva o feminismo!”. Mãe, além de mãe, agora é também executiva da empresa e executora no marido e juiz de tudo. Manda em todos e advoga a favor da limpeza e organização da casa.

Achou que eu escreveria em homenagem às mães? Bobeou, trouxa. Vou falar de nós, os pais trocados, dentro de um sistema de escambo ignominioso, pela chave de um carro, uma mesada, um celular, uma regra surgida do nada e outras tantas coisas mais absurdas...

Não quero mesmo falar de mães, quero é falar de pais. Pais traumatizados, trocados em todos os telefonema que atendemos dos nossos filhos:

“– Oi, pai, a mãe está aí?”

“– Oi filho, tudo bem?”

“ – Pai, quero falar com a mamãe. Ela está ou não está aí?”

Somos telefonistas por acaso?

Ou

“ – Pai, quero falar com a mamãe. Não está? Como assim?”

“ – Não está, ué?”

“ – Posso ajudar?”.

“– Não, pode deixar que eu ligo para ela. Você não sabe de nada”.

Não vou falar de mãetoristas, vou falar de pais trocados por uma chave de carro. Você já passou por isso, caro amigo, tenho certeza:

“–  Pai, a mamãe deixou eu ir à festa da Carlinha, passa aí a chave do carro”.

“ – Mas, quem é a Carlinha?”

“ – Você não conhece, mas a mamãe conhece o pai, a mãe, a avó dela... ah!e o Chuchu ...”

“ – Quem seria o maldito Chuchu?”

Como vingança devemos retribuir, quando acontecer o contrário:

“– Pai, deixa eu ir à festa da Carlinha?”  

Diga de pronto, com voz impostada. Submissa jamais:

“ – Peça à sua mãe, ela é que manda mesmo!...”

                Não pretendo falar de mães, pretendo falar de Santos, não do time de futebol, mas de São Pedro, traidor da nossa causa. Com um calor de 40 graus, a mãe tem o despautério de mandar o catarrento levar uma blusa, porque fará frio. Ele nos olha e a gente, com cara de boneco de ventríluco, balança a cabeça negativamente irônica.  Aí vem o absurdo da traição: Não é que São Pedro, de sacanagem, só pode ser de sacanagem, derruba, lá pela meia noite, a temperatura para 20 graus! E nos faz passar pelo constragimento de ouvir a suma condenatória:

“– Mamãe tinha razão, esfriou mesmo. Quase congelei. Você não sabe de nada mesmo”.  

“ – Que diabos! Por que é que ela sempre tem razão?”

                Não vou falar de mães de jeito nenhum. Quero falar de GPS: O mala do moleque ou a peste da menina sempre esquecem tudo e a gente nunca acha nada. Lá pelas tantas, vem a pergunta fatídica:

“– Pai, você viu onde está minha carteirinha de estudante?”

Resposta óbvia: “Não. É claro que não”.  Peguntou para a pessoa errada. Sugestão óbvia: “- Pergunte para a sua mãe”.

E, antes que isso aconteça, que fale qualquer coisa, lá, de não sei onde,  vem grito sobre o óbvio do óbvio: “ – Tá na parte da frente da sua bolsa, dentro do seu estojo, junto com o seu cartão da Unimed, do lado do lápis preto, da sua bolsa preta velha, que está dentro do carro, na parte de trás, do lado esquerdo, em cima do livro de matemática”.

Mas, a mais torpe das trocas é a da chantagem emocional, quando ela percebe que você ganhou a discussão:

“ – Ninguém me ama nessa casa”. “Vocês só me querem me fazer de empregada!”. “Ninguém aqui reconhece o meu valor!”. “Ai de vocês sem mim!”. “Quero ver quando eu morrer!”. “Eu sei que não sirvo para nada mesmo!”. “Vou-me embora e vocês nem vão notar a minha ausência!”. “Cansei!”.

Na hora, todo mundo fica puto, todo mundo sabe que é chantagem, depois todo mundo pensa na bomba atômica, no caos, no holocausto e volta para dar beijinho, pular no colo e chamar de mamãezinha querida.

Não penso em falar de mães. Penso em falar de pais trocados por uma tevê. Essa dói na alma. Experimente fazer isso e terá uma decepção arrasadora.

Diga: “– Estou saindo de viagem! Só volto daqui a um século”. Ninguém tirará a cara da novela das nove e ainda te mandarão calar a boca, porque está atrapalhando. Ou ouvirá de alguém  que não dá para ouvir o que algum pela saco está  falando no celular.

Pai trocado por gritos mais antigos que os rascunhos da bíblia não dá para competir. Nem me incomodo mais.

Deu algum pepino, o sujeito grita: “– mãeêêê...”. Ninguém grita: “– paeeêê”.

Ou

 “– Quero oferecer esse prêmio à minha mãe”, ou “– Valeu mãe!”.

O pior é que nós, maridos trocados por qualquer coisa, temos mãe: “Não é mãe?”.

“– Não achou engraçado? Não?”.

“– Poxa vida, mãe!, me esforcei tanto!”

“– Não está engraçado?”

“– Não foi para isso que eu te criei com tanto amor!”.

“– É! Acho que você tem razão. Vou refazer”.

Pretendo ser um bom menino e obedinte daqui para frente, apesar dos meus cinquenta anos, mãe. “É! Eu também tenho mãe. E ela compete com minha mulher. E ela “estraga” meus filhos. E ela manda em mim. Eu tenho vontade de enforcá-la de vez em quando, mas não resisto àquelas lágrimas falsas e acabo abraçando-a. E quando ela faz “beicinho”. Depois que inventaram o “beicinho”, filho não ganha briga nenhuma.

Pais trocados, uni-vos! Se suas mães deixarem. 

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